segunda-feira, 1 de março de 2010

GRATIDÃO: Qualidade e Peso

Uma das coisas que aprendi na vida foi o valor da gratidão. Gratidão, do latim gratitudine, é qualidade daquele que reconhece o que lhe foi feito. E bem-aventurado quem reconhece um benefício recebido.
Não há que se falar em gratidão sem iniciar com o sacrifício expiatório do Cristo. Seu sacrifício transcende todos os entendimentos que recebem a palavra “graça”. Todas as manifestações possíveis do verbo “agraciar”. Seu sacrifício torna todas as minhas boas ações óbolos interesseiros. Seu sacrifício me torna em dívida. Dívida que ele não cobra, é importante salientar. A graça de Deus me torna agraciada, por óbvio, mas também me torna agradecida.
Gratidão que se estende quando recebo algum favor. Alguns favores são menores, outros maiores, mas todos passam pela barreira do recebimento, da expectativa, da cobrança. Os bancos são grandes prestadores de favores. Alguém poderá me contradizer dizendo que bancos não fazem favores. Discordo. Na hora da necessidade eles prestam grandes favores. A cobrança que fazem dos favores prestados é que pesa. E bancos não têm misericórdia na hora de cobrar.
Alguns favores que recebemos na vida são assim. Favores de bancos. Na hora da necessidade estão dispostos a ajudar, mas...
Bem, minhas reticências, obviamente, não justificam a ingratidão para com alguém que nos estende a mão. O que ocorre, por vezes, é que a mão que se levanta para ajudar também é hábil em se levantar para ferir. E isso nos esmaga. Perturba nossos valores pessoais. Tornamo-nos ingratos contra a nossa vontade. Estou certa de que não passei por isso sozinha. Atire a primeira pedra quem nunca se agastou com alguém a quem respeitava.
No entanto – e é esse o intento deste palavrar – a gratidão, para mim, se arraiga com tamanha força que permanece acesa a fagulha dos primeiros tempos. O coração perdoa a ofensa, mas a memória tende a regá-la todos os dias. Sou grata aos poucos que me ajudaram a chegar aonde cheguei. E que isso nunca lhes passe despercebido. Em tempo oportuno hão de receber retribuição aos seus favores. Ainda que tenham sido favores de banco.
Olho também com alegria aos que me dedicam gratidão. Todavia, ainda tento esquecer os favores que faço. Tento enfraquecer minha memória para essas lembranças. O que fazemos não nos diz mais respeito; pertence ao outro. Confesso, porém: minha memória teima em querer se lembrar e espero a devoção solene daquele para quem estendi a mão, a quem encorajei, a quem prestei favores. Nessas horas os favores caem por terra e uma voz quase inaudível sussurra em mim: “melhor era não teres feito”...
Gratidão é qualidade nobre. E cuido bem dela em meu coração. No entanto, tão nobre quanto ela é não esperá-la de quem quer que seja, porque fomos feitos para servir.
(Dáuvanny Costa)