sábado, 22 de julho de 2006

O Desaparecido

"Tarde fria, e então eu me sinto um daqueles velhos poetas de antigamente que sentiam frio na alma quando a tarde estava fria, e então eu sinto uma saudade muito grande, uma saudade de noivo, e penso em ti devagar, bem devagar, com um bem-querer tão certo e limpo, tão fundo e bom que parece que estou te embalando dentro de mim. Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo me achar ridículo e talvez alguém pensar que na verdade estou aproveitando uma crônica muito antiga num dia sem assunto, uma crônica de rapaz; e, entretanto, eu hoje não me sinto rapaz, apenas um menino, com o amor teimoso de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico. Olho-me no espelho e percebo que estou envelhecendo rápida e definitivamente; com esses cabelos brancos parece que não vou morrer, apenas minha imagem vai-se apagando, vou ficando menos nítido, estou parecendo um desses clichês sempre feitos com fotografias antigas que os jornais publicam de um desaparecido que a família procura em vão. Sim, eu sou um desaparecido cuja esmaecida, inútil foto se publica num canto de uma página interior de jornal, eu sou o irreconhecível, irrecuperável desaparecido que não aparecerá mais nunca, mas só tu sabes que em alguma distante esquina de uma não lembrada cidade estará de pé um homem perplexo, pensando em ti, pensando teimosamente, docemente em ti, meu amor".
(Rubem Braga)

quinta-feira, 20 de julho de 2006

A ti - ALMA GÊMEA

"Alma gêmea de minha'lma
flor de luz de minha vida
Sublime estrela das belezas da amplidão.
Quando eu errava no mundo
triste e só, no meu caminho, chegaste, devagarinho,
e encheste-me o coração.
Vinhas na bênção das flores da divina claridade,
tecer-me a felicidade em sorrisos de esplendor!!!
És meu tesouro infinito, juro-te eterna aliança,
porque sou tua esperança, como és todo meu amor!
Alma gêmea de minha'lma,
se eu te perder algum dia
serei tua escura agonia,
da saudade nos seus véus.
Se um dia me abandonares,
luz terna dos meus amores,
hei de esperar-te, entre as flores da claridade dos céus."
(Ernesto de Curtis)

... e hei de encontrar-te. Para isso resto.

terça-feira, 4 de julho de 2006

Ânimo de hoje

Não estou [...]

Há reclamações acerca de minha ausência nesse blog.
Mas não escrevo por escrever. Quero sentido. Quero saborear. Quero sabedoria. Não quero escrever mesmices e redundâncias, portanto, calo-me. Minhas mãos calam-se. Mas o calo aperta. O dia cansou-me. A vida cansa-me.
Por que não escrevo sobre as ciências que aprendi? Porque hoje a única ciência que me importa é que eu amo. Presente. Presente de Deus para mim. Presente roubado. Futuro roubado. Arrancado de mim. Mas, acontecimentos inesperados geram novas forças. E eis que elas surgem, mas o tempo ainda não curou as dores. Estão aqui. Explodem. Meu silêncio quer gritar. Meu grito quer descanso.
Escrevo demorando nas palavras, mas hoje tenho pressa. Vim escrever que não estou e não sei quando estarei. Admito: esse blog é uma casa abandonada. Vazio como minha alma.
(Dáuvanny Costa)