terça-feira, 28 de fevereiro de 2006

Ao meu amor

Amo-te como quem ora...
Insone desperto a aurora
Para perguntar de ti.

(Dáuvanny Costa)

Minha Loja


A sexta-feira finalmente chega e o ar carregado que durante o dia me fez sentir sufocada, cede lugar à amenidade da chuva que lava a terra. Enquanto lá fora as gotas caem lavando os pés impuros dos homens e escoando impertinentes para dentro das casas sombrias da cidade, meus pensamentos tomam forma e absorvo outras chuvas. Chuva de palavras. Chuva de letras. Chuva de emoções.
Amanhã é Sábado – eu suspiro [...]. O dia sétimo. Dia de descanso. E depois de uma semana cheia de petições, contestações e apelações posso sonhar com minha “loja de doces”.
Suavemente pousa em minha lembrança a “venda do ‘seu’ Zé”. Ah... quantas balas e doces... quantas guloseimas - que eram primeiro devoradas com os olhos: chicletes, chocolates e sorvetes derretendo em meus lábios ansiosos, em forma de sonhos grudentos que sempre me delatavam à mãe.
Hoje os doces são outros... e ah! Quão doces! Sexta-feira é dia de garimpo. E quando entro pelas portas dessa “venda”, fico embasbacada com o prazer do chocolate na obra clássica que encontro. Sabor de manhã de sol. Sabor de domingo de feira. Sabor de beijo furtado.
Passo os dedos por cada guloseima e solto suspiros doces e brancos de euforia. Cresci. Mas quem entra nesta “venda” é a menina de 10 anos que sonhava com os drops, com o embaré, com a bala de café.
Hoje os doces são mais caros - mas duram mais; em casa os armazeno enfileirados por ordem alfabética. Na loja, me deleito em frente a cada estante, e a moça amavelmente me pergunta se pode ajudar. Recuso gentilmente. Quero procurar sozinha os meus doces, quero andar pelos corredores me deliciando com cada barra de chocolate, quero segurar essas balas entre as mãos e, sentindo-lhes a textura, alimentar a alma.
Cada corredor é um visitante novo. Não vejo mais o ‘seu Zé’. A venda da minha infância fechou e eu cresci. Mas quando entro pelas portas desse mar de livros, onde posso navegar sem culpa, tenho novamente 10 anos e tranças nos cabelos. Não lambuzo mais as mãos e sim o próprio coração.
Minha livraria preferida traz o mesmo sabor das guloseimas da “venda do ‘seu’ Zé”, com mais encanto, paixão e devoção. Sento-me no chão com uma ruma de livros e deleito-me. Como. Bebo. Absorvo. Sinto.
É minha loja. Nem que seja apenas por algumas horas.
(Dáuvanny Costa)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006

A ti

"...Dir-te-ei todos os dias que me fazes falta,
mas conseguirei algum dia significar-te
a falta que me fazes?"
(Ademar Ferreira dos Santos in Descansando do Futuro)

...mas ele roubou de mim; os sentimentos são os meus...
Está bem, ainda bem que ele roubou, senão talvez nunca fosse publicado.

"É"

"... é..." (2 Co. 12.9 - NVI)

Verbo.
Quando se pratica uma ação, a palavra que representa essa ação, indicando o momento em que ela ocorre, é o verbo. Na íntegra, a tradução referida: "A minha graça é suficiente para ti". Tempo presente. Por que aguardamos sempre o devir?!
(Dáuvanny Costa)

Reflexão

"O orgulho de um conquistador empalidece comparado à ostentação do devoto que dirige-se ao criador. Como se pode ser tão atrevido? E como poderia ser a modéstia uma virtude dos templos, quando uma velha decrépita, que imagina o Infinito a seu alcance, eleva-se pela oração a um nível de audácia ao qual nenhum tirano jamais aspirou?"
(Emil Cioran in Breviário de Decomposição)

Ceticismo? Antagonismo? Paradoxalmente minha fé absorve o niilismo e aumenta em si mesma. Ela é segura o suficiente para flertar com os abismos (posto que minha própria alma é um abismo) e extrair do niilismo mais verdades sobre a Teologia do que poderia fazê-lo com os 'profetas do novo evangelho' e suas teologias que defendem a salvação barata e a vitória sem sacrifício.
Seremos de fato atrevidos em nos dirigirmos ao Criador para lamentar nossos dias e pedir que Ele tome providências favoráveis ao nosso respeito? Estaremos exercendo um direito legítimo quando O buscamos como crianças mimadas implorando melhor sorte? Deus é o Senhor a quem devemos reverência independente de circunstâncias ou é simplesmente o gênio da lâmpada, disposto a atender nossos pedidos?...
(Dáuvanny Costa)

Questão de escolha

Arte. Beleza. Desassossego:

"Prefiro a derrota com o conhecimento da beleza das flores, que a vitória no meio dos desertos, cheia da cegueira da alma a sós com a sua nulidade separada".
(Fernando Pessoa/Bernardo Soares in Livro do Desassossego)

Cansando de vez

Hoje estou hipocondríaca. Todos os males.
Quero curar-me do mundo.
Tenho reumatismo da vida.
Cansei. Aqui.
(Dáuvanny Costa)

Coisa Para Inglês (ver)?

Assim como a partitura não exaure a música; o conhecimento não exaure os fatos. Fatos são acontecimentos reais. É fato que um mar de lama arrasa a credibilidade dos políticos brasileiros. É fato que pagamos as pizzas e patrocinamos a corrupção. Do suor dos nossos rostos eles (políticos) comem o seu pão.
A indústria da corrupção desvia verbas que deveriam ser usadas, dentre outras coisas, no combate à miséria e à violência. A 'bola da vez' é a CPI dos Correios. Coisa Para Inglês ver? Comerão a Pizza Inteira? Seja lá o que signifique essa sigla na linguagem popular, certamente não significa "moralidade e punição". CPI's não torna proba a canalha que usa a autoridade pública para cometer crimes e se ocultar segura de sua im(p)unidade. São inatingíveis na sua conduta infratora. Cada criança morta, cada Policial baleado, cada cidadão desempregado, cada idoso humilhado é culpa desses homens 'intocáveis'; e ainda que eleitos pelo povo, não se identificam com o povo. São guiados por suas próprias leis, tal qual Sartre's modernos.
Faltam recursos para equipar hospitais públicos, reajustar salários dos militares e servidores, equipar e valorizar a Polícia, assegurar um salário digno para os trabalhadores (contribuintes), combater a mortalidade infantil, contudo puLulam para verbas de gabinetes, salários de parlamentares, "Aeros", viagens presidenciais constantes, "mensalões" (para ser bem atual) "cala-a-bocas", MST (Movimento dos Sonegadores de Tributos(?)).
Os impostos não são revertidos em benefício da sociedade que os paga. São impostos para irem para os impostores. Esse caos que se alastra pelo nosso Estado Democrático de Direito me lembra sempre Ayn Rand (citação de memória): “Em Nova York, no tempo atual, só podem ter casa ou os muito ricos ou os muito pobres, estes que ganham 15 dólares por semana. A classe média sustenta a moradia dos de 15 e nada há para eles”. Isso dito sobre a construção do condomínio Cortland Homes. Nós, classe média, é que 'pagamos o pato' sem comê-lo.
Somos tolerantes na hora errada. Nossos discursos não mudam o statu quo e não fazem fatos. Povo cordeiro que acredita em "planos de ação" (e não faltam planos, o que falta são ações) de homens que usam gravata e discursam bonito. Sempre os mesmos discursos das velhas raposas, e das novas aves de rapina que descobriram a indústria da corrupção. Parecem todos iguais (será que é a gravata? Mas há mulheres também. E elas não usam gravata). São tão iguais que por um momento me pareceu que assim o fosse por causa da gravata.
Nome pomposo da nova profissão: Industrial da Corrupção. Que bagunça política é essa?! Que farra com o dinheiro público é essa?! É a hora da esbórnia?! Descobriram a necedade das massas? Saibam que há seres pensantes aqui embaixo; melhor prestarem atenção. É a hora do basta!

(Dáuvanny Costa, em 08 de junho de 2005)

Luto

Luto pelo meu país.
Terra de tantos donos que só dominam,
Governado por corrompidos e corruptores.
Quero crer que são minoria - ainda que seja utopia.
Luto - verbo e sentimento.
Com sentimento creio nessa gente sofrida que labuta,
Gente que luta.
Servidores que servem.
Militares que militam.
Trabalhadores que trabalham.
Pão suado, agora usurpado por uma reforma,
que deforma os conceitos de moral.
Luto pelo meu país. Luto.
(Dáuvanny Costa)

domingo, 26 de fevereiro de 2006

Eis tudo

Não suporto o peso do mundo sobre meus ombros.
Ou seria o peso dos céus? Dói. Eis tudo.
(Dáuvanny Costa)

Que tal um café?...


Um café encorpado e meio amargo serve para me despertar numa noite solitária, e me fazer andar pela casa segurando entre os dedos trêmulos aquela xícara azul fumegando, e quando me sento à mesa e deposito a xícara sobre ela, é como se me desligasse de mim mesma. Nesse gesto noto a inverossímil relação entre mim e a xícara azul.
Coloco os óculos e abro todos os livros que tenho à minha frente: Leis, doutrinas, jurisprudências. Passo as mãos pelo rosto, cansada, afasto a mecha que caiu sobre meus olhos que estão fitos em algum lugar além dos livros. Levanto os olhos - não há concentração - e deparo-me com a xícara azul à minha frente, esfriando, silenciosa, confidente, complacente. Toco-a lentamente como se buscasse digitais; nem percebo que essa xícara é um poço onde afogo minhas lembranças.
- 'O que será que o relator quis dizer nesse acórdão?'...Sorrio bebendo cada linha da decisão do Tribunal. Sem bisturi, sem cinzel, sem pincel, sem prancheta. Meu instrumento de trabalho é a caneta - azul. Mas sem a xícara a inspiração não vem, não há feeling. O líquido negro na xícara azul me absorve. Tiro os óculos; levanto-me. Olhando pela vidraça vejo a chuva, tão solitária quanto eu, caindo na rua deserta num dia cinzento. De repente me dou conta de que uma xícara de café é apenas um líquido negro.
Uma xícara de café só é realmente saborosa quando acompanhada de um olhar afável, de um sorriso doce, de uma conversa sobre amenidades, sem aquele peso de decisões e julgamentos, sem crises de existência ou a timidez do medo de mostrar quem somos.
Uma xícara de café é saborosa quando podemos olhar o infinito azul sem preocupações, sem agenda, sem horários, sem fardos ou culpas.
Uma xícara de café é saborosa quando desligamos o celular, respiramos fundo, quem sabe tiramos os sapatos, sorrimos sem graça, nos damos às mãos, afagamos o rosto gentil que nos faz companhia...
Ah!... Que tal uma xícara de café?!...
(Dáuvanny Costa)

Um lugar para chorar

Todos nós, em algum momento da vida, já esteve sem lugar para chorar, seguindo quiçá por um deserto sem oásis. Entretanto, muitos dentre nós têm onde fixar sua mente e coração. Pode ser um amigo, um ideal, uma crença ou um amor. Os mais venturosos, têm os quatro.
Estar sem lugar para chorar é não se encontrar em si mesmo, é não ter descoberto seu papel no mundo. É errar sem destino. Alguns fatores contribuem para tal estado de ânimo; a solidão, entretanto, é um dos maiores precursores. Nossa voz é apenas a 'voz do que clama no deserto'. Sem ouvidos atentos para nossas palavras. Lágrimas? Em momentos assim são inevitáveis.
Est modus in rebus. Há uma medida para a solidão também. A dolorosa ausência de esperança se transforma, paradoxal e milagrosamente, em espera quando há um lugar para deitarmos a cabeça.
O abraço de um amigo, nessas horas, nos transporta para a segurança do amor phileo, onde todos os desejos são partilhados numa alegria silenciosa, como nos lembrou Gibran; no olhar de um amigo renascem em nós os sentimentos ternos de outrora e podemos crer que vale a pena lutar, não porque vai dar certo, mas porque simplesmente andamos de mãos dadas.
A lembrança de um amor, em sua presença ou ausência, nos admoesta a prosseguirmos e por mais longe que esteja, sempre estará presente numa ausência-presença. Podemos ouvir sua voz doce e melodiosa, podemos sentir seu perfume inebriante pelo ar e a lembrança de seu riso nos proporciona revigoramento. Esse amor está em nós. Intrínseco. Inerente. E não importa seu alvo. Não importa nem mesmo se é correspondido. O que importa é senti-lo.
A força de um ideal nos impulsiona como uma alavanca, em defesa de nossas convicções. Um ideal em nós, nos faz suportar os revezes a que tantas vezes somos obrigados. Aguardamos um porvir melhor, menos kafkiano, quando brilha em nós a força de um ideal. Não aguardamos estoicamente um futuro medíocre ou uma vida medíocre. Quando se tem ideais, causas são abraçadas, pessoas são consoladas e feridas são curadas.
Contudo, não há nada que nos faça crescer tanto como a . Crer - e viver o que cremos. Fé não é um discurso religioso, não é uma zona de conforto (nem de confronto), não é uma arma. É uma ferramenta; e ferramenta pressupõe trabalho a ser feito. Fé é o que move o homem a se doar sem limites, sem autocomiseração e sem juízo algum sobre seu semelhante. Há muitos alvos para a fé, e meu alvo é não errar o alvo, é render a Deus os meus louvores. Quando se está sem lugar para chorar, um amigo ajuda muito, um amor é precioso e um ideal é sublime; mas somente DEUS é misericórdia.
Um amigo (os melhores) oferecem seu braço. E quão compassivos amigos eu tenho encontrado! Os meus amigos são pessoas inestimáveis que navegam comigo sempre prontos a pegar os remos se eu soltá-los. Os meus amigos me oferecem uma dose de generosidade que não é encontrada em qualquer amigo. Só nos especiais.
Um amor oferece o coração. Falo do amor que nos é dado pelo céu. Do amor ágape, que nos faz fiéis como o escaravelho que se enclausura no seio de uma única flor e não pusilânimes como a abelha saqueadora, segundo definição belíssima de Roger Martin du Gard. O amor que nos toma, nos completa e nos arrebata. É assim o amor que vive em meu coração. O alvo do meu amor são pessoas insubstituíveis. Rostinhos doces de crianças únicas, rostos fortes de mulheres e homens de fibra, e o rosto lindo dele, o homem que me fez melhor.
Um ideal nos oferece pernas, nos faz caminhar, faz nossos cérebros transbordarem de ânimo, nos convoca à luta, nos liberta do quarto escuro nos arremessando à vida.
Mas só Deus nos oferece colo e consolo. Um lugar para chorar. Preenche nossa alma. Com Ele podemos crer que nossa vida não é inútil, que nossos fracassos não são fatais e que nossa dor um dia há de extinguir-se. Deus transforma o comum em espetacular. Nos levanta do nada (e não foi do nada que Ele criou o mundo?!).
Às vezes Deus nos leva ao silêncio. À espera. No mundo tumultuado em que vivemos nem sempre prestamos atenção à Sua voz, sendo que só no silêncio de nosso coração podemos ouvir Seu sussurrar, e se apurarmos nossos ouvidos, poderemos, por fim, ouvi-lO.
(Dáuvanny Costa)

Se

Se nada do que espero acontecer...
Se nenhum dos meus sonhos sobreviver...
Se nada do que creio for verdade...
Se nenhum dos meus afetos permanecer...
Se nenhuma porta se abrir...
Se o limite 'estourado' do banco não zerar...
Se nenhum elogio receber...
Se meus amigos me deixarem só...
Se minha voz não for ouvida...
Se minhas palavras não forem lidas...
Se minhas lágrimas não forem enxugadas...

Ainda assim... e principalmente então... exclamarei - como Jó: "Ainda que Ele me mate, nele esperarei"...
Ainda que a vida seja feita de 'por quês?'
Valeu a pena se foi para encontrar você... (Ainda e sempre).
(Dáuvanny Costa)

Acessórios

Pelas ruas vejo rostos sombrios; com estranhas formas e sentimentos; e fico imaginando seus pensamentos...
Onde mora a moça de cabelos dourados, o rapaz de olhos azuis, o senhor de chapéu de palha, a senhora gorda de vestido rosa... detalhes de cada um...
Junto com suas formas vejo seus fardos, ombros curvados, e seus acessórios... Tantos! Celulares, colares, óculos, guarda-chuvas, pagers, notebooks, brincos, bolsas, agendas, coisas que já fazem parte de si mesmos. E a moça de risca de giz atrás de mim na fila do banco diz para a amiga ao lado: ‘não saberia viver sem celular’ [...]. Arre! Mas eu posso!... Vivo sem carro, sem celular, sem telefone, sem canetas, sem agendas; mas há um acessório imprescindível para mim: Eu não vivo sem amigos.
Mas... por que estou chamando amigos de acessórios?... Ah! É porque o acessório segue sempre o principal.
(Dáuvanny Costa)

sábado, 25 de fevereiro de 2006

Meu Lamento

O país está vivendo um grave problema ético na Política Nacional. Milhões (MILHÕES eu disse) de reais estão sendo obscenamente desviados de cofres públicos. Dinheiro esse que deveria ser usado para a Saúde, Educação, Segurança etc., e o país fica mais indignado com o dinheiro espontaneamente doado por dizimistas do que por esse quadro vergonhoso e nauseabundo.
Recebi muitas mensagens indignadas com o fato de um membro de instituição religiosa ter sido apanhado com malas de dinheiro; mensagens parciais e tendenciosas, mensagens pejorativas e piadas de extremo mau-gosto. Abstive-me de tecer comentários porque não queria que minha opinião também fosse parcial (coisa, aliás, que me diminuiria). Não defendo o religioso envolvido e não o respeito - por motivos de foro íntimo; entretanto, não tenho o direito de condená-lo sem que o mesmo seja julgado. O dinheiro proveniente de dízimos é um dinheiro legal. O trabalhador que recebe o seu salário pode fazer o que quiser com ele: pode doá-lo, jogá-lo fora ou até mesmo rasgá-lo. É SEU dinheiro. Alguns políticos usam dinheiro de OUTREM (NOSSO) e é contra isso que deveria a sociedade ficar indignada.
Quanto às manifestações que aproveitam para espezinhar aqueles que crêem em algo (ou em  "Alguém") que os 'manifestadores' não podem entender, são deploráveis. Quem nos dá o direito de depreciar a fé do próximo? Eu não ofendo quem pensa diferente de mim e o mínimo que espero é que me respeitem da mesma forma, sem grosseiras generalizações.
Outra questão importante no episódio é o fardo que carregam os que crêem (ou dizem crer). Por que quem fala em nome de Deus têm o encargo de ser melhor do que os outros?! Deveria ser sim, indubitavelmente, mas não é ao homem que cabe esse julgamento.
Que a justiça se encarregue de julgar e condenar o Bispo/Deputado (se ele for culpado), como disse o Cristo: "...Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra" (João 8.7); no grego original: "wV de epemenon erwtwnteV auton anekuyen kai eipen autoiV o anamarthtoV umwn prwtoV ep authn baletw liqon".
A Constituição da República reza expressamente em seu artigo 5º, VI, que é inviolável a liberdade de consciência e de crença; o mesmo artigo reza no inciso X que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas. Os cristãos, sejam eles católicos, protestantes, espíritas etc. que sejam dizimistas (ou não) têm o direito de serem respeitados no concernente à sua fé, têm o direito de não verem sua crença ser motivo de escárnio. Ademais, há crime qualificado de injúria com majoração de pena sempre que a injúria for cometida envolvendo elementos referentes à raça, cor, etnia, origem ou religião. A nova figura nos crimes de injúria é classificada pela doutrina como "injúria preconceituosa".
Gostaria de não ter sido necessário escrever esse texto, gostaria de que aquelas malas não tivessem existido; contudo, gostaria ainda mais de me tornar íntima de Deus, não somente para celebrar Sua presença no que há de belo, mas também para aprender a lamentar com Ele (como escreveu Ricardo Gondim, que doravante parafraseio), os horrores de um mundo que não cumpre Sua vontade; para aprender também a não julgar os outros por aquilo que não concordo ou que não entendo.
Gostaria de conhecer intimamente a Deus para lamentar com Ele quando esses abusos acontecem. Gostaria muito de aprender a lamentar por homens que não aprenderam a servir o Deus que pregam, achando que isso se resume a pregações e festas quando deveriam dar tudo o que são para servir.
Lamento pela crua realidade do meu país, lembrando que ele vem sendo explorado há muito, muito tempo, por homens venais e bestiais.
Sinto muito, mas há mais para lamentar do que o emprego que os trabalhadores dão, voluntariamente, ao seu próprio dinheiro. Lamento pelos rios que viram esgotos - ou depósitos de bebês. Pelos abortos clandestinos. Pelas florestas que viram cinzas. Pelas praias que viram depósitos de lixo. Pelas crianças que se drogam e vendem seus corpos. Pelos jovens sem sonhos. Pelos seres humanos vivendo sob pontes. Pelos analfabetos. Pelos Policiais mortos no cumprimento do dever.
Lamento a exposição de crianças na internet saciando o desejo de pedófilos imorais. Pranteio o Brasil que tem mensalões e laranjas. O Brasil que perde milhares de filhos para a violência.
Lamento que as demais crenças repudiem os cristãos considerando-os cruéis. E que os que não têm religião os identifiquem em dois grupos distintos: exploradores ou idiotas. E aí fico me perguntando em qual desses dois grupos meus "amigos" incluem-me.
Lamento, com todo o meu ser, a perda da credibilidade da igreja, porque doem em mim e em todos os cristãos sinceros, a imoralidade, a espoliação do pobre, o mercadejo da fé, a banalização do milagre, o teatro, a exploração da humildade. Lamento pelas pregações que não iluminam e nem salgam e mais se assemelham a discursos políticos repletos de promessas irrealizáveis que não mudam o ouvinte e mudam muito menos o pregador. Feiras - nada mais.
Também quero fazer coro com o profeta Isaías e dizer que Deus odeia as muitas orações feitas em Seu nome sem que se busque a justiça, faça o bem, pratique o que é reto, ajude o oprimido e defenda o direito da viúva e do órfão (Isaías 1.11-17).
Todavia, hoje quero lamentar pelos que engrossam o coro dos acusadores, dos escarnecedores, dos depreciadores. Lamento que alguém possa pensar que tem o direito de zombar de quem quer que seja por motivos religiosos. Alegam que se faz "lavagem cerebral" nos cristãos, manipulando-os; decerto se faz, então, em todos os seres humanos: a televisão, a literatura (as artes de um modo geral), a escola, a família, e paradoxalmente, as pessoas que escrevem criticando ferozmente isso, posto que também tentam manipular outrem (poderia rir aqui se não estivesse lamentando). Quisera imensamente que todas as pessoas 'manipuladas' se tornassem pessoas de bem, saíssem das drogas, parassem de se prostituir, de adulterar e de roubar; como a grande maioria dos cristãos "descerebrados".
A fé não é o oposto da razão, mas sim algo que a transcende, que não se satisfaz apenas com ela. Eu prefiro crer e ter muitas dúvidas do que achar que não preciso de mais nada. Não falo em nome de Deus. Falo em meu nome e, como escreveu Dostoiévski, "não é como criança que creio em Jesus Cristo e o confesso. Meus hosanas nasceram de uma fornalha de dúvidas".
(Dáuvanny Costa)

Humanistas x Humanos

"O princípio fundamental do judaísmo se resume nestas palavras:
Amarás ajudando o necessitado.
Amarás protegendo o desamparado.
Amarás salvando vidas em perigo.
Amarás resgatando a dignidade humana.
Amarás absorvendo os teus irmãos em Israel.
Amarás hoje. Todos os dias. Sempre."
Não sou judia, mas não posso deixar de deitar meus olhos com honrosa admiração, seriamente meditar no princípio supra e a mim mesma dirigir a pergunta crucial: "de que forma estou amando?" Não amo incondicionalmente como Deus o faz, mas certamente amo como o ser humano que Ele me permite ser. Esforço-me para fazer o que é possível a um humano.
E os humanistas? Cavam cisternas rotas para saciar a sede, investem na direção contrária, na parte errada; colocam o algoz na posição de vítima invertendo os papéis e distorcendo os valores. Os humanistas não trabalham com fatos, só aumentam sua voz e falam grosso para intimidar os que não pensam como eles e para humilhar aqueles que sofrem.
Eles são defensores do homem que nos pilha, do algoz que nos maltrata, do encarcerado que nos rouba. E há muitos modos de roubar uma vida.
Qualquer forma de mal é um mal. Estúpido. Banal. Cruel.
A humanidade foi criada em Adão, um único ser humano, para nos ensinar que todo aquele que destrói uma única vida, é considerado, aos olhos do Criador, como se destruísse o mundo inteiro.
Sou humana. Sinto repugnância pela crueldade, pelo ódio e pela violência. Os homens que se satisfazem no mal e depois desempenham, cínicos, o papel de vítimas enganando tolos crédulos, violentam minha concepção de moral.
Não aprendi a repugná-los tratando de suas vaidades. Aprendi a repugná-los tratando das feridas e das cicatrizes de suas vítimas. Não aprendi a repugná-los por mera especulação, mas por ter vivido, ou melhor, morrido do lado de cá, lado em que os humanistas não ousam colocar seus pés.
Não empunho armas para pilhar ou matar, como fazem os criminosos defendidos pelos humanistas; contudo, como humana, faço de meu discurso uma arma e que ela abra feridas, rompa zonas de conforto, revele a covardia daqueles que se ocultam quando encontram alguém que não tolera sua pseudo e fantasiosa benevolência.
Os humanistas, com seus paradoxais discursos, me fazem agradecer a Deus pelo dom inefável da humanidade que me concedeu, por abrir meus olhos para a compaixão, e por ainda chorar por quem realmente merece minhas lágrimas.
Não posso crer que em lugar algum das consciências dos humanistas não haja um grito lancinante a despertá-los e a adverti-los de que estão na direção inversa e de que, parafraseando Bachelard, toda pequena dor é a representação da dor do mundo.Urge, portanto, que seja abolida a injustificável defesa de indivíduos bestiais.
Não posso me calar, não o devo. Um zelo santo me exalta. Uma paixão me consome. Uma esperança me inebria. Sou fiel à minha consciência e não me oculto atrás de assessorias e chusma de títulos, não uso advogados como escudos porque possuo um Advogado Maior. Os meus anos em Faculdades de Direito me ensinaram muito mais que o Direito; me ensinaram o Reto, o Certo, o Justo. Ensinaram-me que um título não nos torna melhores se nossas almas assim não forem. Ensinaram-me a não confiar em meu braço, mas no caráter d'Aquele que me criou e admoestou, dentre mais nove deveres: "Não matarás".
Os meus anos em Faculdades de Direito talvez me tivessem ensinado a ser humanista, contudo, os meus anos na cruel escola da vida ensinaram-me a ser humana.
(Dáuvanny Costa)

Sobre Leis

Sou operadora do Direito, e como tal, posso formular conceitos sobre leis; mas como ser humano posso lamentá-las. E ora lamento.
Malditas leis ultrapassadas e lenientes, operadas por rábulas interesseiros, que se lixam para as inúmeras dores e misérias das vítimas. Em alguns casos, só a Lei de Talião promoveria uma "justiça" mais aceitável: olho por olho, dente por dente. Hammurabi estava certo, reconheçamos, e Levítico ainda é um livro atual. As leis ocidentais são o paraíso dos criminosos.
Você não conhece minha história (nem conhecerá), mas há tantas histórias sendo escritas cotidianamente debaixo desse sol. Algumas vezes são histórias de vitórias; mas em maior número são histórias de lágrimas e dores. Que essas histórias bastem para que possamos acordar do sono de omissão que vivemos. Também choro de dor, e por isso não tenho descanso... escolhi ser um "Dom Quixote"; nas palavras de Florbela Espanca: "...Sou uma céptica que crê em tudo, uma desiludida cheia de ilusões, uma revoltada que aceita, sorridente, todo o mal da vida, uma indiferente a transbordar de ternura. Grave e metódica até à mania, atenta a todas as sutilezas dum raciocínio claro e lúcido, não deixo, no entanto, de ser uma espécie de D. Quixote fêmea a combater moinhos de vento, quimérica e fantástica, sempre enganada e sempre a pedir novas mentiras à vida, num dar de mim própria que não acaba, que não desfalece, que não cansa!" O cavaleiro da triste figura talvez fosse louco; talvez fosse apenas obsedado pela justiça. Justiça existe? Agora sei que não; mas não posso deixar de lutar, nem de sonhar. Estou dando o melhor de mim. O pouco que resta; minhas noites de sono, meu esforço e meu próprio coração quase embrutecido por um mundo mau. Estamos todos? Será? ... Condoer-se da dor dos outros não é ajudá-los. Dó não é compaixão e não tem nada de solidariedade. Compaixão significa "sentir o mesmo que o outro", se aproximar dele o suficiente para sentir seu coração, "sofrer com". Eloqüente.
(Dáuvanny Costa)

Vossas Excelências

Tenho assistido, indignada, a um mar de lama com enormes ondas, sair de Brasília e invadir nossos jornais, tvs, computadores, casas e quase nos afogar, parecendo, infelizmente, modismo pleonasticamente passageiro, 'efeito titanic'. A corrupção é modismo? Foi criada somente agora? Certamente que não, todavia, o trabalho de vossas Excelências é justamente o de combatê-la. Contraditório...
Indignação é pouco, excelentíssimos senhores, para expressar o que estamos sentindo. Vossas Excelências foram escolhidos para representar e não para pilhar o povo. Infelizmente (para o povo) e felizmente (para vossas Excelências) a indignação ainda é branda e tímida. Nenhum outro povo tolera estoicamente a proliferação de um mal tão nefasto que arraiga a própria cultura das massas e destrói a dignidade, assim como esse povo; todavia, um dia desses o cão se cansa de apanhar e destrói à dentadas a mão de quem o maltratou, o povo ainda não está 'deitado eternamente em berço esplêndido', senhores. Roubar sonhos também é crime, e, no entanto, tantos de vós o fazem às claras, durante o dia.
Cortem na carne sim, senhores, mas nas vossas e não nas nossas como têm feito inescrupulosamente.
As únicas defesas de Vossas Excelências são:
1) Não sabia;
2) Sabia, mas não tinha provas;
3) Assinou sem ler.
Senhores, aquele que está ocupando um cargo político e não sabe o que se passa sob seu próprio nariz, por favor, desocupe a cadeira e deixe que pessoas sérias a ocupem; aquele cuja alegação era de que não possuía provas, além de ignorante, ainda é covarde e omisso; e por fim, aquele que está governando com uma procuração outorgada pelo povo e não lê os documentos que assina, enquadra-se em todas as proposições anteriores, com uma agravante: subestimar a inteligência do povo pelo qual é sustentado.
O desejo da população, senhores, é de que a moralidade seja restabelecida (se é que algum dia houve). Sabemos que entre vós bem poucos são inocentes (se não são culpados por ações o são por omissões), mas sabemos que ainda há inocentes [...].
Expressamos o desejo de que haja punições. Desejamos que os direitos políticos dos traidores do povo sejam suspensos.
Além do trabalho da CPI dos Correios, esperamos que os poderes constituídos, por meio dos órgãos competentes, apure a enxurrada de denúncias de atos ilícitos e corrupção na administração federal, e que desde logo todos os envolvidos nas denúncias sejam afastados até a conclusão.
É isso, Excelências, que a sociedade que os elegeu espera, indignada.
(Dáuvanny Costa, em carta enviada aos parlamentares após o escândalo dos Correios).

Meu Estado Apolítico

Estou ouvindo Mendelssohn. Domingo à tarde. Calor insuportável. Mendelssohn não é popular. Alguns amigos dizem que sou muito sofisticada. Reconheço que meus gostos não são populares. Gosto de Música Clássica, Rock Progressivo, escritores russos, liberalismo. Gosto de Latim, Cultura Grega e Filosofia. Sempre fui velha para minha idade, desde que me entendo por gente.
Hoje estava lendo Rubem Alves (que também não é popular): "Em tempos passados invocava-se o nome de Deus como fundamento da ordem política. Mas Deus foi exilado e o “povo“ tomou o seu lugar: a democracia é o governo do povo... Não sei se foi bom negócio: o fato é que a vontade do povo, além de não ser confiável, é de uma imensa mediocridade. Basta ver os programas de televisão que o povo prefere" (Folha de SP, 05/05/2002).
Informei aos meus amigos que estou apolítica. Não quero ver, ouvir, ler ou sentir política. Cansaço moral. Alguns continuam me enviando artigos e notícias. Confesso que não leio. Leio e respondo e-mails desde que não tenham conteúdo político. Nunca precisei do poder público para nada. Absolutamente. Pagamos impostos para não ver o retorno desse 'investimento'. Se quisermos Educação, Segurança ou Saúde precisamos pagar para tê-las. Se tivermos um direito violado, podemos optar em refazer a vida ou recorrer a um Judiciário moroso, contaminado e pouco confiável. Judiciário corrompido. Não me refiro às pessoas. Refiro-me ao Órgão. Ao Poder. Aos Poderes. Os três. Corrompidos. Prego no deserto (hoje sei).
Fingimos que não é tão grave. Fingimos que tem solução e tentamos. Escrevemos artigos, repassamos textos, escrevemos aos 'representantes' (que representam eles mesmos), cremos, invocamos leis; a mentira é doce. Enganamo-nos. Somos sinceros em nossos propósitos, mas somos ingênuos; achamos que podemos mudar as regras do jogo, mas não podemos, porque 'mudar as regras do jogo' significa mudar o povo e o povo se prostitui como Gomer, a mulher do profeta Oséias. O povo é uma massa heterogênea de indivíduos que se deixam levar por imagens enganosas. Basta um Duda Mendonça para o povo crer em milagres.
Meus gostos não são populares. Admito. Isso me afasta do povo, desse povo sofrido que nada mais é do que massa de manobra. Estou escrevendo porque alguém me pediu, escrevo para dizer que estou apolítica. Por favor, não me falem de política, de governos, de mentiras. Não me falem dessa prostituição desmedida em que homens e mulheres fazem do meu país um lugar pior que as cidades de Sodoma e Gomorra. Não me falem desse povo inconsciente e inconsistente; povo que chora no âmago, mas que nas festas enfeita árvores e se enfeita para ver o bloco passar. Não devo nada a esse povo tampouco a esse país. A honestidade política é uma esperança e não tenho tempo para esperanças.
As notícias são sempre as mesmas. Novas vestimentas para velhos crimes. Nada choca mais - ao contrário, tudo vira motivo de chacota nesse país. Os chargistas adoram, os políticos se divertem, mas o povo também sorri, como hienas.
"Animal Farm" de George Orwell (A Revolução dos Bichos, em português) representa bem o cenário político em que vivemos (e talvez sempre tenhamos vivido). Picadeiro. Circo. Mentiras. Mais mentiras. Cheguei a conclusão de que lutar também é um vício e quero curar-me. Entupo meus ouvidos de cera (como Ulisses), não quero ouvir esses cantos mortais; tomo a decisão de estar apolítica. Tenho o direito. Política se faz com imagens e mentiras. Sou verdadeira demais para participar disso.
Essa semana assisti a "Hitler: a trajetória do mal". Hitler? Desconfio de que não apenas. Se fosse dado a esses políticos o mesmo poder que ele recebeu, todos fariam o mesmo. Exagero. Extrapolo. Talvez apenas 'quase todos'. Exorcizo.
Renuncio.
Por ora.
Sempre escolhi meus candidatos pela honestidade. Acho que quem vota nulo é (diferente de estar) apolítico. Não tenho candidato. Se não tenho candidato, estou apolítica (nada mais óbvio), e estando assim, não posso envolver-me.
Acusam-me de gostos aristocráticos; os que não me conhecem ou não entendem, vão mais além. Todavia, também posso ser bastante popular. Na linguagem: Quero que dane-se.
(Dáuvanny Costa)

A Esperança

Criei o Blog para derramar um pouco do meu coração, propalando minhas incertezas; mas nesse mundo vasto, me deparo o tempo todo com sentimentos semelhantes aos meus. Os autores são diversos: Pessoa, Augusto dos Anjos, Cioran, Rubem Alves, Florbela Espanca, Jack Miles, Ayn Rand, Eugene Peterson, Bonhoeffer - e tantos outros. Autores que são precisos e perfeitos. Portanto, não farei desse lugar, o 'meu' lugar, mas sim minha casa e casas têm quartos, salas, lareiras... abrirei os quartos, se delicie (como eu o faço) com tanta beleza. Abaixo segue Augusto dos Anjos. Poesia. Beleza. Arte.

"A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.
Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?
Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a Crença de fanal bendito,
Salve-te a glória no futuro - avança!
E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da Morte a me bradar; descansa!"
(Augusto dos Anjos in "Eu e Outras Poesias")

Desassossegada

Sempre me perguntam se tenho blog/flog/site/e-outras-dessas-coisas. Não tinha. Não via necessidade. Minhas idéias e desassossegos pertencem a mim - não é possível compartilhar. Minha visão certamente é diferente da sua - mas me rendi a esses diários modernos que expõem nossos pensamentos como se estivéssemos caminhando na rua. Rendi-me hoje. Postarei sem regras. Quando o desassossego for tamanho que sinta vontade inevitável de expô-lo (a mim).
Ademais, tenho muito o que falar (escrever, que seja), quiçá ajudar a resgatar a Igreja e a melhorar o país. Não, eu não sou nenhuma 'enviada especial', mas não posso e não quero mais assistir a esses espetáculos de terror e degradação moral a que estamos quase habituados. Não quero cruzar os braços e fingir que nada acontece. Sim, estou inquieta, uma inquietude que quer agir, que quer mudar conceitos e transformar vidas. Uma inquietude que quer SALGAR. E assim como meu escritor russo preferido, digo: 'há no povo uma dor silenciosa e paciente, que se recolhe e se cala. Mas há outra que explode...' E minha dor quer explodir. Não aceito mais essa venalidade, essas aberrações, esse estado acrítico da igreja. Não aceito mais esses escândalos e torpeza política. Não importa ser crucificada, o que não desejo é ser pisada como sal inútil.
Assim nasce esse blog. Alcançará o que deseja? Não sou presunçosa ao cúmulo de achar que um pensamento meu pode mudar algo, mesmo porque somente Deus trans-forma; eu posso sonhar. E sonho.
A Ele.
(Dáuvanny Costa)

Nada personificado

Se eu fumasse
Os meus olhos não estariam no nada agora.
Mas nas espirais de fumaça ...
(Dáuvanny Costa)