segunda-feira, 26 de março de 2007

Até Quando?!

Há dores que não podem ser superadas.
Há dores físicas que machucam o corpo. Há outras que ferem a alma. Não há medicamentos que providenciem cura; não há chás, xaropes ou poções mágicas para aliviar o peso sobre os ombros; o cansaço mental; as saudades que perfuram o coração quebrando-o em pedaços incontáveis como uma britadeira cruel; a espera; a ausência; as noites de insônia; a agonia disfarçada; o sorriso forçado do cotidiano; as perguntas sem respostas. Essa dor vaza em oceanos de lágrimas regando incertezas.
Até quando?!... é o grito desesperado que rasga nossas gargantas.
Até quando?... é o gemido que nossos lábios balbuciam.
Até quando se contabilizarão amanhãs não vividos?
Há dores silenciosas que se escondem pelos recônditos de nosso ser nos fazendo mentir ao coração covarde. Há outras que explodem, vulcânicas; derretendo-nos.
Essas são as dores em mim. Ambas. Dor da Beth Metynoski, da Lenice Café, do Jorge Damus, da Elizabeth Andrade, dos pais do João Hélio, da Rachel Costa, da Ieda Vale, da Maria Lopes, dor da esposa, da mãe ou da filha que moram na casa da esquina e passam por mim com olhos baixos e tristes sem eu nunca ter ousado perguntar o motivo. Dor de perdas estúpidas, de indignação, de impotência.
Dor pela banalidade da violência, pelo descaso com a vida humana - com a vida amada, pela imoralidade, pela falta de valores.
Dor pelo que está sendo e pelo que teria sido, pela corrupção e pela corruptibilidade, por ser um grão de areia tão pequeno, bem menor que o mar de lágrimas.
Dor pelas crianças que partem - e pelas que nascem; pelas mães à beira das sepulturas de quem elas ensinaram a andar; dor pelos filhos sem pais e sem respostas; dor pelas jovens esposas que não conjugam o verbo amar no passado.
Até quando assistiremos atônitos e silentes essas agressões à nossa humanidade?!
Até quando a indignação das massas só durará 24 horas?!
Como é concebível que bandidos de mira precisa, torturadores, estupradores, cruéis destruidores de vida, sejam considerados e tratados como crianças? Como é concebível que o Estado tutele com mais zelo os algozes que as vítimas? Como leis que supostamente deveriam proteger a sociedade a exponham ao ridículo, à insegurança e ao medo, sendo tão lenientes e inconseqüentes?
Procurei essas respostas. Ei-las. Em minha visão:
Nosso consentimento.
Consentimos na corrupção política, na venalidade judiciária, no 'jeitinho brasileiro', no político desonesto, na venda de votos, nas leis promulgadas, nos preços cobrados, nas grades nas janelas, nos alarmes nos carros, nas crianças em apartamentos, na nossa falta de poder.
Consentimos nos juros bancários, na falta de emprego, nos impostos exorbitantes, na falta de ética, nas mentiras comunistas, nos movimentos humanistas e estúpidos, no desrespeito às Polícias, no uso de drogas.
Consentimos com os programas de tv que fazem apologia a tudo - menos à moral, com a desigualdade, com as notícias dos jornais, com as filas nos hospitais, com a escola sem mestres, com a criança sem infância, com a fome dos índios, com a seca do Nordeste, com a farra do boi, com o desmatamento da Amazônia, com o roubo na casa ao lado.
Somos coniventes. Não agimos ou reagimos. Letargia coletiva que se apodera do povo, enquanto o sangue dos justos rega essa terra impura. O que fazer para mudar? Apontamos problemas, mas não soluções. 
Solução é o fim do "alto clero político".
Disse "alto clero", quando deveria ter dito "baixo meretrício". E nem preciso explicar o porquê.
(Dáuvanny Costa)

domingo, 4 de março de 2007

Preocupação...

"O que me preocupa,
não é o grito dos violentos.
É o silêncio dos bons."


Martin Luther King

Utopia X Justiça

Utopia .... Não posso pensar em utopia sem lembrar o caput do artigo 5º da Constituição Federal: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:" ...
OMISSIS


Motivos para minha lembrança (do artigo 5º):

1) O País é um aglomerado de desigualdades de toda monta em que os que procuram os tribunais também são tratados desigualmente;
2) Garantir a segurança numa terra de ninguém é uma falácia sem tamanho;
3) Garantir a vida é uma audaciosa demagogia em um país que não leva a sério suas leis;
4) Garantir a vida também traz intrínseca a garantia à saúde - e eis que esta agoniza em praça pública;
5) Todas as demais 'inviolabilidades' seguem o mesmo caminho. PROCLAMAÇÃO. Garantia MESMO que é bom, NADA.
Infelizmente a justiça é uma utopia, mas a utopia, no fundo, é um fundamento da esperança. Sem esperança não passamos de um amontoado de células com uma vida sem sentido. Eduardo Galeano é brilhante (ao menos no texto que cito) quando compara a utopia ao horizonte: "a utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ele se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar".
É possível o acesso à uma "ordem jurídica". Difícil, mas possível. À JUSTIÇA, lamento, não vejo possibilidade. Correção NÃO É justiça. Senão vejamos: O que é acesso à justiça? Conseguir ajuizar uma ação? Ou talvez recorrer ao Judiciário em posição de igualdade com os contendores e obter um provimento equilibrado? Uma decisão favorável, talvez? A isso chamo "ordem jurídica". E até mesmo para se conseguir isso são necessários alguns consertos:
1) A movimentação da máquina judiciária é INEXPLICAVELMENTE onerosa. Educação, por exemplo, que é atribuição do Executivo, custa mais barato para o particular do que o ingresso em juízo para a realização de uma simples cobrança: custas, honorários advocatícios e periciais, despesas etc.. Esses exemplos financeiros são apenas alguns dos obstáculos que as pessoas financeiramente pobres enfrentam ao tentar alcançar a "ordem jurídica".
2) Outro problema ao acesso é de cunho social; ainda que seja nas camadas mais humildes que ocorram os maiores índices de atentados aos direitos subjetivos dos cidadãos, poucos recorrem ao Judiciário. Talvez por desconhecerem seus direitos. Talvez por não crerem. Talvez.
Citei apenas dois obstáculos (há vários) que devem ser quebrados. Educando o povo acerca de seus direitos (precipuamente cidadania) seria um começo.
Enfim...eu sonho minha UTOPIA.
(Dáuvanny Costa)