terça-feira, 30 de outubro de 2012

Nossa Vileza

"Ora, cristãos, não sejam assim: aprendamos ao menos do demônio a estimar nossa alma. Vejamos o que o demônio hoje fez por uma alma alheia para que nós nos corramos e confundamos do pouco que fazemos pelas próprias. Vai-se o demônio ao deserto, está-se nele quarenta dias e quarenta noites, como se fora um anecereta; e em todo este tempo esteve vigiando, e espreitando ocasião, e tanto que a teve, não deixou pedra por mover para a conseguir. Vendo que não lhe sucedia, parte para Jerusalém, e sendo tão inimigo de Deus, vai-se ao Templo para persuadir a Cristo que se arrojasse do pináculo: Mitte te deorsum (1): Estuda livros, alega Escrituras, interpreta salmos: Seriptum est enin, quia angelis suis mandavit de te, et in manibus tollent te, ne forte offendas ad lapidem pedem tuum (2). Resistindo também aqui, e vencido segunda vez o demônio, nem por isso desmaia: corre vales, atravessa montes, sobe ao mais alto de todos; e só por ver se podia fazer cair a Cristo, não repara em dar de uma só vez o mundo todo. E que o demônio faça tudo isto por uma alma alheia; e que façamos nós tão pouco pela própria
Que se ponha o demônio quarenta dias em um deserto para nos tentar; e que eu nos quarenta dias da Quaresma não tome um quarto de hora de retiro para lhe saber resistir! Que vigie o demônio e espreite todas as ocasiões para me condenar; e que deixe eu passar tantas de minha salvação; e ocasiões que uma vez perdidas, não se podem recuperar! Que vá o demônio ao Templo de Jerusalém distante tantas léguas, para me despenhar ao pecado; e que tendo eu a Igreja à porta, não me saiba ir meter em um canto dela, como o Publicano, para chorar meus pecados! Que o demônio para me persuadir estude e alegue livros sagrados; e que eu não abra um só espiritual, para que Deus fale comigo, já que eu não sei falar com ele! Que o demônio vencido a primeira e segunda vez, insista, e não desmaie para me render; e que se comecei acaso alguma obra boa, à primeira dificuldade desista, e não tenha constância nem perseverança em nada! Que o demônio para me fazer cair, desça vales e suba montes; e que eu não dê um passo para me levantar, tendo dado tantos para me perder! Finalmente, que o demônio para granjear a minha alma, não repare em dar ao primeiro lanço o mundo todo; e que eu estime a minha alma tão pouco, que bastem os mais vis interesses do mundo para a entregar ao demônio! Oh miséria! Oh cegueira!"...
(Antônio Vieira in Sermão da Primeira Dominga da Quaresma ou das Tentações)

(1 e 2) Mateus 4.6

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Escudos Humanos

Parece que afinal o Governo de SP despertou para a gravidade da situação da (in)segurança pública no Estado. Situação que tem vitimado inúmeros Policiais Militares que, se cometeram alguma falta, foi desejar servir e proteger a sociedade, recebendo em troca soldos miseráveis, acusações e rejeição.
A situação, diferentemente do que afirmava o Governo do Estado e a Secretaria da Segurança Pública, está sim fora de controle - e o estado de insegurança é conivente com o estado de descaso. Fronteiras desguarnecidas, leis lenientes formuladas por mãos corruptas, simpatia da população por facínoras; são esses alguns dos instrumentos que tornam possível a covardia vil de meliantes ordinários.
Atualmente se trata de massacre, no entanto, o morticínio não começou agora. Há anos esse tem sido o quadro. Policiais arriscando - e perdendo - a vida para defender a sociedade. E quem defende os Policiais?! 
O Governo parece ter despertado do torpor; a sociedade - manipulada pela mídia e por grupos néscios - infelizmente, quer me parecer que ainda não.
(Dáuvanny Costa)