quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Um país se faz com homens e livros

Hoje comemoramos, nós, os que lemos, o dia Nacional do Livro. Esperançosos de que muitos se juntem a nós.
O primeiro livro editado no Brasil foi "Marília de Dirceu" de Tomás Antônio Gonzaga:
"Minha alma, que tinha
Liberta a vontade,
Agora já sente
Amor, e saudade,
Os sítios formosos,
Que já me agradaram,
Ah! Não se mudaram;
Mudaram-se os olhos,
De triste que estou.
São estes os sítios?
São estes; mas eu
O mesmo não sou.
Marília, tu chamas?
Espera, que eu vou".

A frase do título é de Monteiro Lobato.

Homem de prol

Grande é aquele que mantém a porta aberta para revisão de seus pontos de vista, sem medo de parecer inseguro e não se apega aos feitos do passado, mas luta para alcançar um futuro melhor.
(Dáuvanny Costa)

Além da beleza da toga

"Cuatro características corresponden al juez: Escuchar cortésmente, responder sabiamente, ponderar prudentemente y decidir imparcialmente."
Sócrates (470 AC-399 AC)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Sonhar é caminhar

"Nós crescemos através de sonhos.
Todos os grandes são sonhadores. Eles conseguem enxergar fogo em uma longa tarde de inverno. Alguns de nós deixamos grandes sonhos morrer, e outros os alimentam e protegem; os alimentam durante os dias maus, até que lhes tragam o brilho do sol e a luz, que sempre vem ao encontro daqueles que possuem a esperança sincera de que seus sonhos se tornarão realidade".
(Woodrow Wilson)

Pela esperança

"Sei que meu trabalho é apenas uma gota d’água num oceano, mas sem ele o oceano seria menor."
(Teresa de Calcutá)

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O bandido e os mocinhos

Pensei em tecer várias considerações sobre o assunto.
Dizer que não é justo vilipendiar uma Polícia que é, sim, eficiente. Uma Polícia que é, sim, bem preparada, mesmo com os parcos recursos de que dispõe, mesmo com a demagogia dos discursos vazios dos políticos, mesmo com a execração pública da imprensa, mesmo com a veleidade da população seduzida pelas imagens das telinhas e mesmo com os ridículos soldos que recebem.
Pensei em dizer que não é justo atacar a reputação da Polícia quando o bandido estava lá dentro, armado e preparado para o pior. Pensei em gritar que os únicos que devem ser repelidos e condenados são os bandidos e não os homens que são [mal] pagos para nos proteger. Pensei em gritar: "Parem com isso!"
No entanto, isso é cediço. Todos sabem, apenas preferem fingir que não é assim. É mais divertido seguir a tropa (que não é a de elite), afinal, pensar é mesmo complicado quando o assunto está ali, pisado e repisado, comentado ad nauseam, quando os 'especialistas', analisando vídeos dariam outro rumo à história; quando 'especialistas', sentados em frente a equipamentos, teriam soluções melhores: "Numa terra de fugitivos, aquele que anda na direção contrária parece estar fugindo", escreveu o poeta T. S. Eliot. O país enlouqueceu e nós, que tentamos fugir, parecemos os loucos.
Renunciei ao texto que escreveria. Nesse circo, somos todos súditos dos palhaços que elegemos.
(Dáuvanny Costa)

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Aos sensatos

(...) "O rapaz [Lindembergue], que saiu ileso das coisas miseráveis todas que fez, é preservado também no noticiário, e sua versão está circulando nos jornais — só teria atirado depois da invasão. A ela, nota-se, dá-se uma credibilidade superior à versão da polícia. O Brasil é assim: ama os seus bandidos, os seus algozes. A imprensa, em particular, tem uma espécie de tara para santificar o crime e os criminosos.
A polícia poderia ter matado Lindembergue nas vezes em que apareceu à janela? Talvez. E não estaria sendo agora menos atacada se o tivesse feito. Mais um filme estaria em curso, é provável, com patrocínio das estatais, poetizando a bandidagem e fazendo sociologia barata sobre as origens econômicas da violência etc e tal... Já conhecemos isso tudo, não é mesmo?"
(Reinaldo Azevedo)

Recomendo os excelentes artigos: "O nome do criminoso" (de onde extraí o trecho supra) e "A tragédia de Santo André: e nós com isso?" Ambos no blog do Reinaldo. No mais, decerto o Brasil ama os seus bandidos, basta olhar para o Palácio do Planalto [...].

domingo, 19 de outubro de 2008

Uma carta de amor

"Sem ti nos meus braços, sinto um vazio na alma.
Dou por mim à procura do teu rosto no meio das multidões - sei que é impossível, mas não consigo conter-me. A minha procura por ti é uma busca interminável destinada ao fracasso (...)
(...) Desculpa, meu amor, mas não existirá nunca ninguém para te substituir. As palavras que te murmurei eram absurdas e eu devia ter percebido isso então. Tu - e só tu - tens sido sempre a única coisa que eu desejei, e agora que já aqui não estás, não tenho qualquer desejo de encontrar outra. Até que a morte nos separe, sussurramos na igreja, e eu tenho vindo a acreditar que as palavras permanecerão verdadeiras até finalmente chegar o dia em que eu, também, serei levado deste mundo."
("Uma carta de amor" de Nicholas Sparks)

Porque é hoje e porque é sempre.

sábado, 18 de outubro de 2008

SAL QUE NÃO SALGA

Hoje acordei com o desejo desatinado de resgatar a igreja. Estou ciente de que é um desejo deveras arrogante; talvez insano: "...as muitas letras te fazem delirar", palavras lançadas ao apóstolo Paulo por Festo, governador da Judéia (60-62), relatadas em At. 26.24.
Não sou nenhuma "enviada especial" (isso é coisa de repórter), estou "apenas" indignada e não posso e não quero mais assistir a esses espetáculos de degradação moral, a essas tolices, a esses disparates. Não quero cruzar os braços e fingir que nada acontece.
Sim, estou inquieta, uma inquietude que quer agir, que quer mudar conceitos e transformar vidas. Uma inquietude que quer SALGAR. Não aceito mais essa venalidade, essas aberrações, esse estado acrítico da igreja. Não importa ser crucificada, o que não desejo é ser pisada como sal inútil.
O legado da igreja está sendo manchado. O Evangelho está sendo descaracterizado. A fé está sendo negligenciada por valores menores. Os pregadores estão corrompendo e sendo corrompidos, e quanto a nós, bem, resta-nos a culpa de nossa omissão.
Alguns chamar-me-ão demagoga, outros ainda me julgarão soberba e insolente e há aqueles que comungarão de meus desassossegos. Chamar-me-ão de muitas coisas, menos de hipócrita. Desespero-me da igreja. Quisera assim não fosse, todavia, ora ela vive uma busca frenética por superficialidades que me arrancaria de minha zona de conforto (se eu tivesse alguma) e hoje essa fúria me consome e me exalta. Talvez, juntos, possamos encontrar o caminho de volta ao Caminho.
Não foi para isso que eles [todos] morreram.
(Dáuvanny Costa)

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Bem-aventurança

"Os que acreditam no impossível, são os mais felizes"
(Eugenie de Guerin)

A tristeza...

"No céu, também há uma hora melancólica.
Hora difícil, em que a dúvida penetra as almas.
Por que fiz o mundo?
Deus se pergunta e se responde: Não sei.
Os anjos olham-no com reprovação,
as plumas caem.
Todas as hipóteses: a graça, a eternidade, o amor caem,
são plumas.
Outra pluma, o céu se desfaz.
Tão manso, nenhum fragor denuncia
o momento entre tudo e nada
ou seja, a tristeza de Deus".
(Carlos Drummond de Andrade)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Minha humanidade

Não basta que sejamos honestos e íntegros.
Não basta que sejamos perseverantes e corajosos.
Não basta que sejamos inteligentes e cultos.
Não basta que sejamos fortes e ousados.
Não basta que sejamos gratos e gentis.
Não basta que sejamos tolerantes e indulgentes.
Não basta que sejamos esforçados e lutadores.
Não basta que sejamos estudiosos e dedicados.
Não basta que sejamos trabalhadores e diligentes.
Não basta que sejamos ávidos por justiça e pacificadores.
Não basta que sejamos bons.
Alguns nos querem santos.

E santos, segundo crêem, não erram.
Não caem.
Não mudam de rota.
Não fazem sexo.
Não mentem.
Não dissimulam.
Não escapam.
Não usam de subterfúgios.
Não buscam os próprios interesses.
Não escondem os sentimentos.
Não choram.
Não contraem dívidas.
Não ignoram.
Não respondem mal.
Não têm ressentimento.
Não se aborrecem.
Não suspeitam mal.
Não são sofisticados.

Rogo a Deus para retirar a venda dos homens que nos querem santos. Santos com esse tipo de santidade ilusória; perfeição irrestrita e destituição de humanidade.
Que crêem em suas próprias mentiras e nos acusam de terem crido nas nossas.
Que plantam sementes de incertezas e colhem frutos de desespero.
Que enxugam lágrimas e em seguida fazem-nas novamente cair.
Que gritam quando esperamos o silêncio.
Rogo a Deus para me guardar dos homens que nos querem santos.
Ardo em minhas próprias concupiscências.
Sorvo o veneno agridoce de minha volúpia.
Invento histórias para corromper-me.
Maculo-me na lama dos meus erros.
Entrego-me a prazeres efêmeros.
Permito que a dor me subjuge e dilacere.
A mensagem é santa. Não a emitente.
A mensagem é santa. Não eu.
(Dáuvanny Costa)

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Os desagradáveis

"Todas as pessoas cruéis descrevem-se como modelos de sinceridade".
(Tennessee Williams)

Se a verdade não for ELE

“Esse símbolo é muito simples: acreditar que não há nada mais belo, mais profundo, mais simpático, mais racional, mais corajoso e perfeito que Cristo, e não só não há como eu ainda afirmo com um amor cioso que não pode haver. Além disso, se alguém me demonstrasse que Cristo está fora da verdade e se realmente a verdade estivesse fora de Cristo, melhor para mim seria querer ficar com Cristo do que com a verdade”.
(Dostoiévski in Carta de 20/02/1854 à Fonvízina).

domingo, 12 de outubro de 2008

O teatro

"Graças, chistes e facécias, que movem o riso, são para o tablado da Comédia, e não para o Púlpito".
(Manuel Bernardes in Os últimos fins do homem)

sábado, 11 de outubro de 2008

Ouvindo - Chet Baker


Porque você é GRANDE


GI, GUI, MANU, MI, DUDA


Era para ser uma crônica grave. Séria. Preclara. Tomei da folha imaculadamente branca (a mais branca que encontrei) e da caneta azul preferida. Sentei-me à mesa, cautelosa, com o ar grave, semblante calmo, mas sério. Segurei a xícara de porcelana com o perfumado café da Fazenda Águas Claras e garimpei lembranças na memória. Porém, nada de sério encontrava nas escavações. Em vez disso; risos, mãos meladas, pedidos exigentes de “McDonald’s” e piqueniques, cabelos soltos rolando num vento manso.

Vez ou outra acalentava na mente rostinhos como de beijinhos de coco com açúcar cristal, rostinhos brancos e corados, iluminados por grandes e brilhantes olhinhos verdes. Havia vezes em que os rostinhos pareciam deliciosos cajuzinhos, rostinhos morenos com lindos olhinhos cor de avelã. Ah... Que doces pensamentos... E cada um desses docinhos marejava meus olhos de saudade. Brotavam lágrimas que faziam meu coração transbordar numa ternura que não sei exprimir. Nem Shakespeare saberia. Nem Saint-Exupéry em seu “Pequeno Príncipe”.
Era para ser uma crônica séria. Com o ar responsável de um Beethoven a reger a Nona Sinfonia. Era para ser, mas não foi.
Logo me desfiz do ar sério que levei para a mesa. Passei a mão na xícara e gritei: “quero um chocolate quente”; enquanto ria um riso alto que não sei rir mais. Olhei aquela folha branca, imaculadamente branca, e comecei a desenhar coqueiros (meu desenho preferido ou a única coisa que sei desenhar) em todo o seu corpo. Enquanto desenhava, pude me lembrar de sorrisos que alegravam meu coração, de abraços que abraçavam minha alma e de beijos carinhosos como os dos colibris em suas flores.
E por todo lado eu via elefantes cor-de-rosa (ou cores de rosas? pergunto-me, escapando à severidade da gramática), girafinhas azuis com pescoços tão grandes que podiam morder a lua, golfinhos saltando histéricos de alegria, e pensei em crianças... Lindas e doces crianças... Pensei no quanto as amo e no quanto sou, por elas, amada. Perguntei-me, então, (fazendo de novo o ar sério) como é que em corações tão pequeninos pode caber um amor tão grande?
Dei-me conta, nessa conta de quem ama mais, de que estou sendo chata, adulta, gente grande. Nesse momento, tiro os óculos, os sapatos, os brinquedos das caixas e todos olham espantados enquanto se perguntam o que “deu em mim”...
Posso dizer que li num livro que não devo querer crescer, pois os adultos não entendem nada. Posso dizer que no escritório tive um instante louco e mergulhei de cabeça na infância do jardim. Posso dizer, por fim, que esses lampejos todos – da criança em mim – devo a cinco estrelas, a cinco sonhos, a cinco canções que canto no peito meu.
Se você acertar, ganha uma sobremesa.
Pensei em rimar seus nomes, mas não achei nada mais enfadonho. Pensei em dizer que as amo, mas crianças sabem sem precisar ouvir. Pensei em... ah!... chega de pensar! Quero ser criança e amar e amar e amar...
(Dáuvanny Costa, revisto e corrigido)

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

VOX CLAMANTIS IN DESERTO

A notícia: Deus: cabo eleitoral. (clique para ler)
Desnecessário falar do que se torna capaz um político em busca do brilho falso do poder. E do que se torna capaz um pastor em busca do brilho entrevisto nas notas dos dízimos.

Voto com Sêneca: "Nihil est homini se ipso vilius"*. O mercado de almas não segue a crise mundial. Ainda se encontram almas bem baratas para mercadejar. Vieira já bradava no Sermão das Tentações: "Aprendamos ao menos do demônio a estimar nossa alma" (Pe. Antônio Vieira), mas nem com o tal alguns conseguem aprender. Que feira de cinismo e logro!...
(Dáuvanny Costa)

* Não há coisa para conosco mais vil que nós mesmos.