sábado, 27 de outubro de 2007

Cláusulas

"Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.
Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas de amanhã
com as coisas ásperas de hoje?
Como proteger-me das feridas que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento que lembra a Terra e sua púrpura demente?
E mais aquela ferida que me inflijo a cada hora,
algoz do inocente que não sou?
Ninguém responde, a vida é pétrea".
(Carlos Drummond de Andrade)