segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Livros - O Evangelho Maltrapilho

Deus sussurrou em meu ouvido: 'O Evangelho maltrapilho'.
No dia em que o trouxe para casa, cheguei do trabalho, retirei-o da pasta e li a contracapa. Ocupei-me com coisas. Quando tornei a ele, bem mais tarde, só deixei-o às cinco horas da manhã do dia seguinte. Não pude parar de ler. Não estava de folga. O 'dia seguinte' era dia de trabalho. No entanto, não pude parar sua leitura. E jamais li um livro daquele modo. As lágrimas escorriam e eu, literalmente, soluçava. À exceção de meu primeiro livro, jamais li outro livro aos prantos. Jamais até Brennan Manning.
O Evangelho maltrapilho, de Brennan Manning, desnudou-me. Desmascarou-me. Mostrou-me minhas farsas. Entrou em minha alma e arrancou-me. Vi o quanto tinha necessidade de Deus. De confiar nEle. De tê-lo em mim e para mim.
Não sou boa. Isso não é crime tampouco pecado. Na verdade, isso (ser bom) sequer é possível. Sou honesta para assumir as minhas falhas. No entanto, tenho me sentido fracassada. Brado com Fernando Pessoa, poeta português: 'falhei em tudo'. Escondo-me e duvido impudentemente do amor de Deus. Falo sobre Ele e, às vezes, falo com Ele, mas não digo: 'Senhor, sei que me amas'. Não digo, em minhas explanações, o quanto Deus é amoroso. Desconheço seu amor. Fujo dele. Sinto-me sozinha. Há dois atributos no caráter de Deus que não costumo declarar. Abstenho-me, confesso – e me sinto envergonhada por confessar: Seu amor e sua justiça. Não creio no seu amor por causa das dores que sufocam minha alma; e sua justiça...
Após a leitura de O Evangelho Maltrapilho, senti-me livre. Livre para ser eu mesma, sem querer agradar; sem querer ser gentil porque não sei agir de outro modo. Sinto-me livre para me sentir amada. Admitir, a mim mesma, que sou filha amada de um Deus amoroso e desconhecido. Esposa amada de um marido amoroso cujo único objetivo sempre foi o de me fazer feliz. Tia amada de crianças adoráveis que sabem amar como se isso fosse a obra-prima de suas vidas. Amiga amada de amigos confusos que nem sempre sabem o que dizem. Irmã amada de pessoas que não sabem demonstrar, mas nem por isso me amam menos. Admitir, a mim mesma, que mesmo não sendo digna desse amor – de nenhum deles – sou amada. E posso amar.
A vida me anestesiou a sensibilidade. Não choro lendo livros. Pode acontecer de me emocionar com determinada leitura; deixo, então, o livro no canto e me ocupo com outra coisa até poder voltar a ele. Entretanto, eu precisava chorar. Precisava ouvir Deus rasgando meu coração. E carne rasgando dói.
O capítulo sobre o segundo chamado foi água sobre uma terra árida e sedenta. Eu apenas suplicava: “Deus!”. Há algumas semanas tive uma experiência com Deus. Nada sobrenatural. Nenhuma visão ou audição. Nada de teofania. Não consegui abranger Deus com meus sentidos. Entretanto, foi a experiência mais real que já tive acerca de Deus. Liguei para um querido amigo para contar-lhe como estava me sentindo. Gracejei com ele dizendo: “Creio que me converti”. O amigo referido - Sérginho - talvez seja a única pessoa com quem eu realmente possa ser eu mesma. Sou joio e trigo. Sou virtude e vício. Naquela noite, meu coração transbordou. Meu espírito transbordou. Precisava, também, molhar a terra de alguém. Disse a ele, entre lágrimas: “não quero dormir. Tenho medo de perder isso”. E não dormi. Nem perdi.
Não foi uma teofania. Nem preciso que seja. Não preciso mais. Naquela noite Deus se fez real para mim. Ele se mostrou para mim de uma forma sem forma. Sua voz não foi ouvida como um trovão em minha sala. Ele “apenas” me mostrou sua glória. Apenas me fez compreender que não cabe em minha vida. Ele é maior.
Olho para minha vida e é esse meu óbice no relacionamento com Deus. Minha vida é injusta, portanto, Deus é injusto. Não! Ele não cabe em minha vida. Ele a abrange; a abraça e a envolve. Variações de um mesmo fato.
A graça de Deus me assusta e me confunde. Não apreendo seu caráter, por mais que deseje, mas hoje sei que Ele me ama. De uma forma que não mereço. Seu amor não está demonstrado em nada – ou em ninguém – que Ele me dê ou me tire. Está demonstrado, simplesmente, porque Ele vive em mim.
(Dáuvanny Costa)

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom que voltaram os comentarios... nao contribuo com nada mas gostava de falar sobre o que vc escreve, É sempre bom lê-la e li todos os 171 posts desse blog pq eles merecem ser lidos e relidos, trelidos... esse post me levou a reflexao.... obrigado dau, acho q eu tb nao entendo do amor de Deus, mas quero entender.
Gil.

Vilma disse...

Li este livro e gostei muito, assim como os restantes deste autor.
Vale a pena ler os outros dele se puder.

Lou H. Mello disse...

Sou fã com carteirinha e tudo do Manning e esse livro em particular, como é público e notório. Gostei do impacto que ele causou em você. Era de se esperar.