quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Livros - Em que crêem os que não crêem?


"...vivemos em uma época que conheceu as mais terríveis manifestações da maldade. Um certo clima de otimismo fácil, segundo o qual as coisas se arranjam mais ou menos sozinhas, não apenas mascara a dramaticidade da presença do mal, mas apaga também o sentido de que a vida moral é luta, combate, tensão agonística; de que a paz só se alcança ao preço do dilaceramento sofrido e superado". (Carlo Maria Martini)

O livro "In cosa crede chi non crede?" , que nasceu com a inauguração da coleção "Veredas", da revista "liberal", foi publicado no Brasil pela Editora Record e traz o diálogo epistolar entre o cardeal Carlo Maria Martini e Umberto Eco. Traz ainda, na segunda parte do livro, escritos de filósofos e jornalistas.
Ao terminar a leitura do livro, folheá-lo, fechá-lo, guardar os marca-textos e os lápis, pensei: Decerto falta profundidade ao estudo. O objetivo do livro, no entanto, não é se aprofundar em questões teológicas de difícil compreensão. É lançar a semente. E esse propósito foi cumprido.
Umberto Eco é coerente.
Martini se abstém de certos assuntos, conquanto abrilhante a discussão com fé e erudição.
Alguns dos céticos perguntam - com sinceridade -, e destarte, já não os chamaria céticos.
Notório, todavia, o ressentimento de alguns dos interventores. Ressentimento por não crerem em algo maior que seus pensamentos. Atitude de quase todos os que sofrem de "atoísmo", creio. Ateus, geralmente, me parecem menos confusos do que quem "crê-em-algo-maior", abstendo-se, terminantemente, de dar-lhe o nome de DEUS.
Quer me parecer que, para esses, o problema todo envolve o nome de Deus, que recebe pseudônimos diversos pela criação de sua obra: força superior, inteligência cósmica, criador universal, mente infinita e afins. Quer me parecer que, para esses, assumir que Deus se chama Deus, princípio supremo, os faria mais papalvos do que admitir que Deus existe, mas não tem nome (é o que fazem).
Shakespeare, inspirado por Platão, declama pelos lábios de Julieta: "Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume". Outrossim quaestio di nomine não tem qualquer relevância nos momentos dramáticos. Importa mais a ação que seu nome.
Em que crêem os que não crêem?... Pertinente... É necessário crer em algo, nem que seja na vida ou em nós mesmos. Crer que ainda não fizemos tudo o que pode ser feito dentro e fora de nós. 
(Dáuvanny Costa)

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