quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Minha humanidade

Não basta que sejamos honestos e íntegros.
Não basta que sejamos perseverantes e corajosos.
Não basta que sejamos inteligentes e cultos.
Não basta que sejamos fortes e ousados.
Não basta que sejamos gratos e gentis.
Não basta que sejamos tolerantes e indulgentes.
Não basta que sejamos esforçados e lutadores.
Não basta que sejamos estudiosos e dedicados.
Não basta que sejamos trabalhadores e diligentes.
Não basta que sejamos ávidos por justiça e pacificadores.
Não basta que sejamos bons.
Alguns nos querem santos.

E santos, segundo crêem, não erram.
Não caem.
Não mudam de rota.
Não fazem sexo.
Não mentem.
Não dissimulam.
Não escapam.
Não usam de subterfúgios.
Não buscam os próprios interesses.
Não escondem os sentimentos.
Não choram.
Não contraem dívidas.
Não ignoram.
Não respondem mal.
Não têm ressentimento.
Não se aborrecem.
Não suspeitam mal.
Não são sofisticados.

Rogo a Deus para retirar a venda dos homens que nos querem santos. Santos com esse tipo de santidade ilusória; perfeição irrestrita e destituição de humanidade.
Que crêem em suas próprias mentiras e nos acusam de terem crido nas nossas.
Que plantam sementes de incertezas e colhem frutos de desespero.
Que enxugam lágrimas e em seguida fazem-nas novamente cair.
Que gritam quando esperamos o silêncio.
Rogo a Deus para me guardar dos homens que nos querem santos.
Ardo em minhas próprias concupiscências.
Sorvo o veneno agridoce de minha volúpia.
Invento histórias para corromper-me.
Maculo-me na lama dos meus erros.
Entrego-me a prazeres efêmeros.
Permito que a dor me subjuge e dilacere.
A mensagem é santa. Não a emitente.
A mensagem é santa. Não eu.
(Dáuvanny Costa)

Nenhum comentário: