sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Escavações nas Rochas

Há alguns meses meus e-mails são filtrados. Alguns ficam no filtro do anti-spam; outros vão para a lixeira. Os que ficam na caixa de entrada são apenas os pertinentes? Nem sempre. E isso é deveras subjetivo. Todavia, na caixa de entrada, podem ser encontrados os dos familiares e amigos. O resto fatalmente encontra o caminho da lixeira. E de lá não é salvo.
Isso inclui PPS, spams, propagandas, piadas, política e cobranças. Destinatários vão para a lixeira. Assuntos também. O que não esbarra nos filtros encontra minha intolerância. Às vezes perco e-mails que não deveria perder. Um risco necessário. Alguns dos destinatários quando me encontram reclamam que não respondi aos seus e-mails. Na verdade, em alguns casos, nem mesmo os vi, mas peço, carinhosamente, para me dizerem o assunto do e-mail: "Ah! Não era nada importante", dizem. Pois bem! Se não era importante, não merecia os minutos do meu tempo.
É fácil saber de que trata o e-mail. Alguns enviam apenas PPS - Haja paciência. Alguns enviam piadas, pilhérias, tolices. Nem sempre engraçadas. Alguns reclamam da política. E continuam agindo como sempre agiram. Alguns pedem favores. Alguns reclamam favores prestados. Sei quais assuntos não quero ler. Sei a quais remetentes não quero dar atenção. Lixeira.
Essa foi a parte fácil. Filtrar as mensagens dos outros. Parti para o difícil: filtrar minhas mensagens aos outros. Comecei aos poucos. Diminuí o volume de mensagens enviadas. Passei a selecionar cada assunto: Poesia, Política, Direito, Religião, Literatura; são tantos assuntos bonitos, tantos assuntos preciosos, mas ninguém mais tem tempo para lê-los. Como eu não tenho. Avalio também as respostas. Ao receber resposta à remessa, mantenho o envio; se em duas ou três remessas, não recebo resposta, cesso o envio. E excluo o destinatário. Simples e racional.
Alguns amigos reclamam de minha ausência. Após problemas com torpedos (mensagens de texto) que enviei à minha irmã e foram parar em outra freguesia, e com outro que enviei em caráter de urgência e chegou apenas no dia seguinte (...); desisti dos celulares para envio de mensagens. O número de meu telefone agora é apenas para amigos e familiares. Isso restringe o número de respostas que devemos dar em um dia. A maioria das pessoas que nos fazem perguntas não está mesmo querendo saber. Querem apenas respostas. Verdadeiras ou não. E querer saber é diferente de querer resposta.
Isso não significa que não respondo e-mails. Respondo-os. Com prazer. Isso também não significa que eles são coisas chatas. Gosto muito de alguns e-mails que recebo. Recebo, respondo e guardo após responder. Alguns remetentes merecem atenção especial, porque também me concedem atenção especial.
Na vida também é assim. Há necessidade de uma análise criteriosa. Necessidade de mudar o comportamento se aquele não está agradando, sob risco de ir parar na lixeira. Há pessoas que insistem a vida inteira no mesmo comportamento e quando as coisas não dão certo culpam outrem. As coisas não dão certo porque se tentou sempre o mesmo. Mesmos atos, mesmos resultados.
O culpado de sua vida não ter dado certo (se é que ela não deu) não está fora de você. O culpado de sua vida não ter dado certo (se é que ela não deu) é você mesmo. Todavia, se ela não deu certo até aqui não significa que nunca dará. Todo dia é um novo dia. Dia cheio de possibilidades. Para algumas pessoas a vida não foi muito boa, mas entre morrer ou escavar nas rochas, preferiram escavar nas rochas. Escavar rochas tem conseqüências, mas quem o faz, nunca culpará outrem pelas coisas que não aconteceram, pois sabe que fez tudo o que poderia ter feito.
Escavar rochas quebra ferramentas e cria calos, mas as escavações servem para nos manter alerta.
Escavações nas rochas fortalecem os músculos e a paciência. É um processo demorado e cansativo, mas aqui, nas minhas rochas, já começo a ver a escada e a subir por ela.
Enquanto filtro os degraus.
(Dáuvanny Costa)

Nenhum comentário: