sábado, 13 de dezembro de 2008

A Palavra e o Natal

Em viagem recente, minha sobrinha Giovana perguntou-me, ainda no carro, quem inventou a palavra.
Reduzi a velocidade, franzi o cenho por trás dos constantes óculos escuros e respondi de pronto: “Deus”. O Deus que disse: “Fiat lux. E houve luz” (Gênesis 1.3). O Deus que se tornou o verbo encarnado: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (João 1.1). Deus, autor e consumador da palavra. E que apresenta a si mesmo como sendo ela.
Nutro profundo respeito pela palavra. Estudo-a, perquiro-a, sorvo-a. Desejo conhecê-la profundamente, ser-lhe íntima, desvendar-lhe os sentidos, num embate amoroso e terno que revele e renove o verbo em mim.
A palavra, para mim, tem ar sagrado. No entanto, a sacralização da palavra não está na importância que lhe dou, ELA é o sagrado.
Sou contemplativamente silenciosa. Silente quedo-me, fazendo pausa na música que há em mim. Suntuosa é a palavra para emergir sem um propósito. A própria palavra, paradoxalmente, calou-se: “E Jesus, porém, guardava silêncio” (Mateus 26.63).
Destarte, meço as palavras, peço a palavra, peso as palavras, sou de palavra; não a gasto com impropérios, com cogitações de vidas alheias, com intrigas e vilezas. A força da palavra é para ser dita não desdita, bendita não maldita, soprada não arrancada. A palavra não fere; o que fere é o invólucro que a envolve e a corrompe.
A palavra veio para os homens e eles a fizeram calar. Para comemorá-la hoje. Comemoram-na hoje com enfeites e presentes, com árvores e champanhe, com panetones e perus, com cartões e luzes. Comemoram-na fora de si mesmos, num ímpeto talvez desesperado de preencher a ausência da voz de muitas águas que se tornou inaudível.
Comemoram-na hoje, chamando-a Jesus menino, esquecendo-se, talvez, de que o menino cresceu. E foi crucificado, carregando a dor do mundo; mas a morte não pôde detê-lo e Ele retornou. Retornou para mostrar-nos o sentido real de sua vinda: Amar o próximo como a nós mesmos. E fazer bem aos que nos odeiam. Em todo o tempo.
A palavra não pode louvar e cantar em um dia apenas, enquanto permanece calada em nosso coração durante 364 dias do ano. A palavra grita em nós que Jesus Cristo é o dono da festa. É seu o Natal; o Natal é sua festa, seu nascimento, sua origem humana, a palavra trazida à vida, encarnada no Salvador. A palavra, que é Jesus Cristo homem, deve nascer em nosso coração todos os dias em que nos denominamos ‘humanos’. Palavra que emerge com propósito.
Que ela nasça hoje em ti. E em mim. Permanecendo por todos os nossos dias; e no próximo ano, quando as luzes de fora se acenderem, serão ofuscadas pelas luzes de dentro, que não mais se apagarão.
(Dáuvanny Costa)

Um comentário:

fabiana disse...

Menina, adorei o seu texto! matavilhosso!! bjinho :)