sábado, 22 de agosto de 2009

Adoração e Adoradores

Um amigo perguntou minha opinião sobre a “música evangélica atual”. Com o tempo aprendi a escutar música sem sofrer seus efeitos. Aprendi a fazer distinção entre música sacra e música evangélica. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra. A citação do nome de Deus em uma canção não a torna sacra; na verdade, às vezes a citação do nome de Deus em uma canção a torna de extremo mau-gosto.
Confesso que ouço sem exigir muito. O objetivo da nova música evangélica não é, necessária e evidentemente, louvor e adoração; influenciada pelos livros de auto-ajuda que logo se transformam em best-sellers, os compositores, ansiosos pela venda de cds, propagam vitória, sucesso e alegria.
Na música evangélica atual não há lugar para os que sofrem, os que choram ou para os fracos. É a antítese do sermão da montanha. Lugar para os fortes, os alegres, os vitoriosos.
Nos poucos acordes e repetição de palavras o que não falta é óleo de alegria, vestes de louvor e coroas. Pululam palavras de incentivo, pisadas na cabeça do diabo e exigências de bênçãos. Sobressai-se quem exigir mais. Nos poucos acordes e repetição de palavras o que não falta são reinvenções das palavras de Deus; “das palavras de Deus”, repito, pois “A Palavra de Deus” não pode ser reinventada – suspiro aliviada.
Ouço sem acridade, entendendo que o propósito, muitas vezes, não é evidenciar o Deus da criação e o Deus da redenção; mas evidenciar-nos. Nós que, quando entoamos muitas dessas canções, perdemos de vista que somos os criados. Criados englobando todos os sentidos. Frutos da criação e servos pela redenção.
Houve uma época em que ouvi essas canções. Em busca de incentivo. Ocasião em que o maior desafio era permanecer viva, e essas canções me traziam esperança. Esperança na vida. As dores não passaram; mas hoje a esperança está na vida certa; na vida dEle, não na minha.
Não posso julgar os músicos que aparecem enquanto me escondo em minha zona de conforto, ainda que eles estejam equivocados em seu objeto de culto. Com suas danças frenéticas que não compreendo e suas manifestações extravagantes, cultuam um deus que desconheço e que não me lembra em nada o Deus a quem desejo servir. Suas palavras desconexas no meio das canções valorizam rituais e não a simplicidade mágica do Evangelho; palavras que por vezes me constrangem e chegam a ser o inverso da beleza. Contudo, não ouso julgar, apenas aprendo a distinguir esses sons dos verdadeiros sons de adoração.
Adoração é mais que um estender de mãos, gritos histéricos, palavras repetidas, choros sem motivo, danças e pulos. Adoração é um se calar quando palavras não são necessárias, adoração é um olhar ao céu quando a vida nos machuca, adoração é entender que uma lágrima vale mais que um canto. E o Pai procura adoradores.
Reconheço, porém, que a música evangélica tem uma qualidade: ela entendeu que falta no meio cristão uma qualidade chamada encorajamento. É mais fácil jogar o outro em poços do que erguê-lo a montes. A música evangélica entendeu isso e por isso cresce vertiginosamente ainda que entoe o nome de Deus sem adorá-lo. Antropocentrismo. E o homem ainda precisa disso. O homem que não aprendeu a crer.
(Dáuvanny Costa)

3 comentários:

Filipe Liepkan disse...

agora entendo os novos rumos do blog. inevitavelmente, cara, a música evangélica é o retorno à animalização do indivíduo, quando este é impelido por manifestações convictas de vitoriosidade perante o alicerce: o dito inimigo.



abçs

filipe

Marcus Bittencourt disse...

Cristão desde os 12 anos, hoje com 27, presenciei muitas mudanças na música evângelica assim como em todo o meio cristão. Não questiono o avanço por meio de ritmos ou diferentes estilos, mas como disse a Dra. Deus tem deixado de ser o centro nas composições, hoje a música evângelica é muito conhecida e aceita por grande parte do público brasileiro, há muitos admiradores porém não são seguidores e ainda há aqueles que frequentam uma igreja como um estilo de vida, esses abraçaram apenas uma denominação religiosa e não o Cristo vivo. A questão toda é que Deus deve ser o centro de tudo e na maior parte dos casos não tem sido assim.

Nelson disse...

São só comerciantes, bonitos mesmo sao os hinos de antigamente. Maravilhoso o texto, diz tudo o que sinto tb.
Bjs.