sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Método para não surtar

Pela manhã os passarinhos já gorjeiam pelo quintal. Os pequenos chatos.
Alguns construíram ninhos no quiosque e se apossaram do lugar com seus ovos e filhotes. Pousam sobre a churrasqueira como se deles fosse e nos olham atrevidos quando nos dirigimos ao gramado. Os habitantes dos cinzentos bairros de São Paulo, com o zumbido irritante dos milhares de carros e o serpentear barulhento do metrô, suspiram sôfregos e me recriminam pela intolerância com os pequenos chatos.
Eles acordam-me. Geralmente. A não ser aos sábados quando acordo mais cedo para ir à Pós, por enquanto meu dia não começa antes das oito. Aliás, não deveria começar, mas começa por causa dos chatinhos que ficam gorjeando lá fora. O dia não deveria começar antes das oito. Principalmente nos dias em que vou deitar às quatro da manhã, ocupada com livros e processos, mas começa por causa dos chatinhos.
Dia desses um pardal entrou no escritório e sobrevoou minha mesa, se chocando contra o vidro da janela. Nem pude distinguir qual de nós ficou mais assustado com sua peraltice.
Os chatinhos, no entanto, me ensinaram uma coisa divertida: Agora, quando alguém me irrita, não discuto. Não reclamo para os atendentes das empresas de telefonia. Não adianta. Não reclamo para o 0800 dos Bancos. Não adianta. Não reclamo daqueles chatos que não largam do meu pé – fazendo-me lembrar, inclusive, do Beiçola, da Grande Família, com suas cobranças e estultícia. Não reclamo nos SAC's. Não mais que o necessário.
Agora, quando a moça da operadora do cartão de crédito não entende nada do que eu pergunto e me responde que "vai estar verificando" ou quando os atendentes dos Correios me perguntam (numa mesma frase, sucessivamente, a cada negativa minha): "é só registrada mesmo? Não é sedex? Não precisa de A.R.? É comum?" Suspiro e digo: "Chatinho".
Chatinha. A moça mal treinada da telefonia, o rapaz distraído da operadora do celular, o vendedor pegajoso da loja de móveis, o frentista intrometido, o garçom pouco diligente, o entregador que demora na entrega, o ofensor prazeroso de seu atrevimento, o gerente incompetente. A secretária que não acerta meu nome (e ainda me chama de "bem"). Todos. Chatinhos. Silenciam do outro lado da linha. Olham-me assombrados. Chatinhos!
Pela manhã os passarinhos já gorjeiam pelo quintal. Os pequenos chatos. E a vida amola durante o dia, trazendo os diversos e divertidos chatos com suas perguntas retóricas, seus comentários desnecessários, suas observações tolas.
Chatinhos.
(Dáuvanny Costa)

Um comentário:

Carlos disse...

é um ótimo método que eu seguirei.
Bom mesmo vc estar de volta. Bjs.
Ah! obrigado por colocar ai a possibilidade de seguir. :))