quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Esperanças Falidas. Lá e Cá.

De uma maneira ou de outra, todos os que vivemos nesta pátria tão convulsionada estamos expostos a altíssimos níveis de ansiedade, stress e impotência, sob as imensas nuvens negras com as quais amanhecemos e anoitecemos.
Nestas semanas temos lido e ouvido, insistentemente, acerca do termo falido. Fala-se que Honduras é um Estado falido, que o governo é falido, que a cidadania está falida, enfim, uma cadeia de falhas que me permitiram acrescentar mais uma ao elo: esperanças falidas.
De uma maneira estrepitosa temos contemplado como nos últimos anos muitas de nossas esperanças se esfumaram até se converter em falidas. A morte e o narcotráfico cavalgam dia e noite por todo o território nacional. Como nunca, contemplamos crimes horrendos que, por já serem tão comuns, nos insensibilizou e os adotamos, infelizmente, como parte natural e cotidiana da realidade.
A falta de emprego é o passaporte para que já não só jovens e camponeses, mas também adultos mais velhos e profissionais, estejam abandonando o país em busca de um futuro mais promissor e esperançoso do que se pode ter aqui. Que pena que compatriotas continuem brincando com o destino pela miopia, ambição e o egoísmo de nossos pseudo-dirigentes!
Por qualquer lente que se olhe, nota-se o caos no qual estamos afundados. O sistema educacional público é uma fogueira desde há anos, onde a única coisa que soma no mesmo é a perda irrecuperável de aulas. Infortunadas crianças e jovens alunos! Espera-lhes um futuro torrencial, onde não terão oportunidades mínimas pois não aprenderam nada: seu conhecimento é paupérrimo, nunca lhes ensinaram como desenvolver destrezas e jamais lhes transmitiram valores, já que, antes, se lhes alentou a formar turbas de rua que destroem tudo em sua passagem.
Do mesmo modo, a saúde pública encontra-se em estado de calamidade. Não há remédios, material nem equipamentos cirúrgicos... é tanta a demanda que pouco se pode fazer pelas longas filas de necessitados e doentes.
O mais demolidor de todas estas sombras que turvam o horizonte, é a atitude irresponsável e patética que a Klasse Polítika continua predicando. Esta não amadureceu em absoluto, nem aprendeu um milésimo com o passado recente no qual quase se enterra a República. Convocam as pessoas para escutá-la, quando a gritos expressaram suas carências. Para que falar tanto se os estômagos não podem continuar esperando? Para que estar em reuniões bizantinas, se o que se deseja é viver em paz e não morrer a cada dia?
Necessita-se de trabalho, educação, saúde, moradia, segurança para avançar e não para retroceder.
Não é com constituintes nem com documentos promulgados por indivíduos que acreditam ser semi-deuses, que se iluminará e resolverá o caminho. As palavras, os discursos, os grandes eventos são parte de um marketing que ficou como imagem congelada nos espelhos, pois não produziram os resultados esperados. Quem vai querer investir num país com a insegurança jurídica e física na qual se vive? Como operarão empresas que gerem riqueza, se nem sequer respeita-se a Constituição da República nem a divisão de poderes?
Já estão ficando até sem valores os que devem ser o reflexo ideal para as diversas gerações. Pratica-se de forma cínica a traição e a deslealdade. Corta-se com a guilhotina da infâmia a cabeça daqueles que nas horas boas e, sobretudo, nas más, foram nossos sinceros amigos. Estabelecem-se laços de amizade com outros que não nos deixaram nada, e que nem sequer sabem como se pronuncia o nome do nosso solo.
As esperanças das classes média e baixa já estão falidas. Não se vê a saída por nenhuma esquina. Tudo está contaminado a tal ponto, que a Klasse Polítika se imiscuiu em todos os ambientes públicos e privados, chegando inclusive a dobrar até os intelectuais e a academia, que se vêem intimidados pelas diretrizes da corrupção.
Esperanças falidas quando se comprova que cada vez mais se distancia a estrela que nos orientará para sair da pobreza, pois o gasto público aumentou, a burocracia cresce aceleradamente com a criação de secretarias de Estado decorativas e de escassa incidência no âmbito nacional. Ademais, as viagens burocráticas improdutivas com numerosas comitivas a nações estrangeiras, deixam que a imaginação comece a navegar.
Esperanças falidas ao descumprir com um povo que, com valentia, ante ameaças e intimidação, saiu um inseguro domingo de novembro de anos atrás, a exercer o sufrágio maciçamente para continuar vivendo em democracia.
Esperanças falidas quando os cidadãos honrados e íntegros contemplam estupefatos como se alenta e venera desde o poder público os delinqüentes de colarinho branco, os anarquistas e virulentos que encarnam a força bruta, e os vende-pátria de ontem e de hoje, ao oferecer-lhes todo tipo de honrarias, concessões e estímulos de protagonismo. Premia-se-os por haver tratado de destruir a nação!
Sentimo-nos sem rumo, sem bússola e respira-se, em geral, uma sensação estranha de certeza de que nos encaminhamos ao despenhadeiro, à agonia pátria, pois tudo indica que naquele governo hondurenho lacaio do imperador sul-americano, não se extirpou definitivamente o câncer que circulava pelas células da República.
As únicas duas esperanças que não estão falidas são a capacidade de resposta de uma sociedade que nestes momentos, inexplicavelmente, brilha desarticulada e temerosa. A outra é a fé em Deus, esse Deus que nunca nos abandonou e que sempre estará com Honduras até o fim dos tempos.

Nota da tradutora: Eis aqui um artigo magnífico de um cidadão de Honduras que poderia muito bem estar se referindo ao Brasil.
(Tadutora: Graça Salgueiro in Mídia sem Máscara)

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