Todos nós, em algum momento da vida, já esteve sem lugar para chorar, seguindo quiçá por um deserto sem oásis. Entretanto, muitos dentre nós têm onde fixar sua mente e coração. Pode ser um amigo, um ideal, uma crença ou um amor. Os mais venturosos, têm os quatro.
Estar sem lugar para chorar é não se encontrar em si mesmo, é não ter descoberto seu papel no mundo. É errar sem destino. Alguns fatores contribuem para tal estado de ânimo; a solidão, entretanto, é um dos maiores precursores. Nossa voz é apenas a 'voz do que clama no deserto'. Sem ouvidos atentos para nossas palavras. Lágrimas? Em momentos assim são inevitáveis.
Est modus in rebus. Há uma medida para a solidão também. A dolorosa ausência de esperança se transforma, paradoxal e milagrosamente, em espera quando há um lugar para deitarmos a cabeça.
O abraço de um amigo, nessas horas, nos transporta para a segurança do amor phileo, onde todos os desejos são partilhados numa alegria silenciosa, como nos lembrou Gibran; no olhar de um amigo renascem em nós os sentimentos ternos de outrora e podemos crer que vale a pena lutar, não porque vai dar certo, mas porque simplesmente andamos de mãos dadas.
A lembrança de um amor, em sua presença ou ausência, nos admoesta a prosseguirmos e por mais longe que esteja, sempre estará presente numa ausência-presença. Podemos ouvir sua voz doce e melodiosa, podemos sentir seu perfume inebriante pelo ar e a lembrança de seu riso nos proporciona revigoramento. Esse amor está em nós. Intrínseco. Inerente. E não importa seu alvo. Não importa nem mesmo se é correspondido. O que importa é senti-lo.
A força de um ideal nos impulsiona como uma alavanca, em defesa de nossas convicções. Um ideal em nós, nos faz suportar os revezes a que tantas vezes somos obrigados. Aguardamos um porvir melhor, menos kafkiano, quando brilha em nós a força de um ideal. Não aguardamos estoicamente um futuro medíocre ou uma vida medíocre. Quando se tem ideais, causas são abraçadas, pessoas são consoladas e feridas são curadas.
Contudo, não há nada que nos faça crescer tanto como a fé. Crer - e viver o que cremos. Fé não é um discurso religioso, não é uma zona de conforto (nem de confronto), não é uma arma. É uma ferramenta; e ferramenta pressupõe trabalho a ser feito. Fé é o que move o homem a se doar sem limites, sem autocomiseração e sem juízo algum sobre seu semelhante. Há muitos alvos para a fé, e meu alvo é não errar o alvo, é render a Deus os meus louvores. Quando se está sem lugar para chorar, um amigo ajuda muito, um amor é precioso e um ideal é sublime; mas somente DEUS é misericórdia.
Um amigo (os melhores) oferecem seu braço. E quão compassivos amigos eu tenho encontrado! Os meus amigos são pessoas inestimáveis que navegam comigo sempre prontos a pegar os remos se eu soltá-los. Os meus amigos me oferecem uma dose de generosidade que não é encontrada em qualquer amigo. Só nos especiais.
Um amor oferece o coração. Falo do amor que nos é dado pelo céu. Do amor ágape, que nos faz fiéis como o escaravelho que se enclausura no seio de uma única flor e não pusilânimes como a abelha saqueadora, segundo definição belíssima de Roger Martin du Gard. O amor que nos toma, nos completa e nos arrebata. É assim o amor que vive em meu coração. O alvo do meu amor são pessoas insubstituíveis. Rostinhos doces de crianças únicas, rostos fortes de mulheres e homens de fibra, e o rosto lindo dele, o homem que me fez melhor.
Um ideal nos oferece pernas, nos faz caminhar, faz nossos cérebros transbordarem de ânimo, nos convoca à luta, nos liberta do quarto escuro nos arremessando à vida.
Mas só Deus nos oferece colo e consolo. Um lugar para chorar. Preenche nossa alma. Com Ele podemos crer que nossa vida não é inútil, que nossos fracassos não são fatais e que nossa dor um dia há de extinguir-se. Deus transforma o comum em espetacular. Nos levanta do nada (e não foi do nada que Ele criou o mundo?!).
Às vezes Deus nos leva ao silêncio. À espera. No mundo tumultuado em que vivemos nem sempre prestamos atenção à Sua voz, sendo que só no silêncio de nosso coração podemos ouvir Seu sussurrar, e se apurarmos nossos ouvidos, poderemos, por fim, ouvi-lO.
(Dáuvanny Costa)
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