sábado, 25 de fevereiro de 2006

Vossas Excelências

Tenho assistido, indignada, a um mar de lama com enormes ondas, sair de Brasília e invadir nossos jornais, tvs, computadores, casas e quase nos afogar, parecendo, infelizmente, modismo pleonasticamente passageiro, 'efeito titanic'. A corrupção é modismo? Foi criada somente agora? Certamente que não, todavia, o trabalho de vossas Excelências é justamente o de combatê-la. Contraditório...
Indignação é pouco, excelentíssimos senhores, para expressar o que estamos sentindo. Vossas Excelências foram escolhidos para representar e não para pilhar o povo. Infelizmente (para o povo) e felizmente (para vossas Excelências) a indignação ainda é branda e tímida. Nenhum outro povo tolera estoicamente a proliferação de um mal tão nefasto que arraiga a própria cultura das massas e destrói a dignidade, assim como esse povo; todavia, um dia desses o cão se cansa de apanhar e destrói à dentadas a mão de quem o maltratou, o povo ainda não está 'deitado eternamente em berço esplêndido', senhores. Roubar sonhos também é crime, e, no entanto, tantos de vós o fazem às claras, durante o dia.
Cortem na carne sim, senhores, mas nas vossas e não nas nossas como têm feito inescrupulosamente.
As únicas defesas de Vossas Excelências são:
1) Não sabia;
2) Sabia, mas não tinha provas;
3) Assinou sem ler.
Senhores, aquele que está ocupando um cargo político e não sabe o que se passa sob seu próprio nariz, por favor, desocupe a cadeira e deixe que pessoas sérias a ocupem; aquele cuja alegação era de que não possuía provas, além de ignorante, ainda é covarde e omisso; e por fim, aquele que está governando com uma procuração outorgada pelo povo e não lê os documentos que assina, enquadra-se em todas as proposições anteriores, com uma agravante: subestimar a inteligência do povo pelo qual é sustentado.
O desejo da população, senhores, é de que a moralidade seja restabelecida (se é que algum dia houve). Sabemos que entre vós bem poucos são inocentes (se não são culpados por ações o são por omissões), mas sabemos que ainda há inocentes [...].
Expressamos o desejo de que haja punições. Desejamos que os direitos políticos dos traidores do povo sejam suspensos.
Além do trabalho da CPI dos Correios, esperamos que os poderes constituídos, por meio dos órgãos competentes, apure a enxurrada de denúncias de atos ilícitos e corrupção na administração federal, e que desde logo todos os envolvidos nas denúncias sejam afastados até a conclusão.
É isso, Excelências, que a sociedade que os elegeu espera, indignada.
(Dáuvanny Costa, em carta enviada aos parlamentares após o escândalo dos Correios).

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