domingo, 8 de outubro de 2006

CARTA ABERTA AOS PEQUENOS

Meus pequenos,

Essa pode ser a última carta que escrevo-lhes.
Não é nenhuma data especial. Não é seu aniversário, dia das Crianças ou Natal. Tampouco, meu aniversário. Não é um dia de grandes notícias. A vida ainda se arrasta, sorrateira; a dor ainda fere meu coração; ainda não ganhei os milhões de dólares esperados, e as lágrimas (que comovem vocês desde que eram bebês) permanecem teimosas. O amor que nos une, no entanto, sempre é fato comemorativo. É sempre novo.
Hoje, nessa mesa abarrotada de papéis, fixei o olhar nos rostinhos lindos que a enfeitam e não pude deixar de sentir saudades. Saudades dos momentos juntos - e saudades, principalmente, do que eu não vivenciei.
É importante que vocês entendam o que significa saudade: Há alguns anos, o tio Eduardo trabalhava longe de casa, e havia dias em que a saudade que sentia dele, quando o sol se punha, era tão intensa que não podia esperar sua chegada. Meu coração ficava como que suspenso no ar, ansioso. Havia dias em que ia ao seu encontro no trabalho e enfrentava horas de viagem - apenas para vê-lo mais cedo.
Hoje, como cotidianamente, essa saudade foi sentida - por ele - e por vocês. Ante a impossibilidade de vê-los nesse momento e apertá-los de encontro ao meu coração, eu queria que soubessem do amor que sinto; soubessem que desejaria gastar todos os meus sábados com vocês; sem TV, sem trabalho, sem telefone, sem livros e sem sombras.
Um dia, quando forem grandes, meus pequenos, capazes de tomar suas próprias decisões e escolher os seus caminhos, espero que em seus corações conservem as crianças lindas que são agora. Que sejam homens e mulheres íntegros e éticos, que lutem por seus ideais, mas que permaneçam puros. Vivam ilimitadamente a liberdade de serem vocês mesmos. E amem ilimitadamente; até a última gota.
Nesse momento, bebo o costumeiro chá, e então me lembro de uma bebê (dois anos), que mal conseguia segurar sua caneca, sentadinha em um colchão enquanto me fazia companhia, soprando seu doce chá. Lembrança essa que faz surgir um sorriso em meus lábios. Essa bebê cresceu - assim como meu amor por ela e pelos que vieram após ela. Também me lembro de outra bebê (quatro anos) que "fugia" de chá, "não gosto de chá", ela dizia emburrada; e isso arranca uma gargalhada de mim. São lembranças doces. Mas hoje não quero escrever apenas sobre lembranças; quero escrever sobre esperanças.
VOCÊS ME DÃO ESPERANÇA. Quando olho para vocês, não tenho dúvidas de que o céu é real. E a vida quase faz sentido.
Sou uma abençoada.
É uma frase que espreme meu coração e o faz sangrar como uma uva, mas eu a disse em voz alta. É evidente que não podem entender, meus pequenos, mas isso faz de meus olhos um manancial.
Peço, porém, que Deus me conceda forças para repetí-la até que minha mente descanse e meu coração seja consolado. Vocês são anjos que Ele me emprestou e que me dão um vislumbre do paraíso nesse mar de sal. Vocês - e ele, para sempre - me apresentaram o Paraíso e me fizeram uma pessoa melhor. O segredo contido nessa mensagem é o que me faz suportar conviver com os medíocres. E sobreviver.
Sou uma abençoada.
(Dáuvanny Costa)

3 comentários:

Anônimo disse...

Lindo, lindo... lindos sentimentos... lindos...

Anônimo disse...

Lindo... não há quem não diga esta palavra!

O texto faz-me imaginar como estes bebês, meus priminhos, são. Devem ser lindos!

Anônimo disse...

Ès sim uma abençoada.
Gil Vianna.