domingo, 29 de outubro de 2017

Anjos de Farda

Meus heróis são atípicos. Não usam capas ou máscaras e tampouco possuem super poderes. Militam na chuva, nos becos, nas ruas, nas noites e madrugadas. Vigiam enquanto a sociedade dorme, cuidam enquanto ela se diverte, investigam enquanto ela descansa, correm enquanto ela espera.
Meus heróis não recebem aplausos, não lhe são jogadas flores em vida e não são famosos pelos atos heróicos. Arriscam-se por salários infames sob condições de trabalho precárias e insalubres.
Meus heróis são transportados em veículos barulhentos – e às vezes coloridos; suas armaduras possuem cores variadas – tecidas de fibras mistas como a lembrar-lhes de sua própria fibra moral; suas missões são dadas por rádios ruidosos que não tocam canções de alegria. Botas pesadas, coberturas de diversas formas, armas, balaclavas, carregadores, munições; assim se disfarçam para a luta que travam cotidianamente. 
Meus heróis não marcam ponto no trabalho, não possuem horário de almoço e não se acostumaram a dizer “não”. Não podem escolher seus clientes e com grande freqüência lidam com escórias humanas. 
Meus heróis entram em prédios em chamas quando todos correm, perseguem criminosos quando todos se escondem, mantêm a calma quando todos se exaltam, enfrentam o perigo quando todos se desesperam.
Meus heróis não possuem estrelas em calçadas da fama, não são adorados como celebridades e tapetes vermelhos não são estendidos quando passam; contudo, são os astros reais de quem valoriza caráter. 
Meus heróis são fortes, porém, também são frágeis; são formados da mesma matéria de que sou formada: são de carne e osso – e podem se quebrar. Suas armaduras não são indestrutíveis, não se regeneram e sequer nelas encontram proteção para o ódio dos insanos.
Meus heróis são HOMENS; no verdadeiro sentido do que é ser um homem: possuem responsabilidade e força. Eles são maridos, pais, filhos, irmãos, amigos. São amados e amantes.
Há heroínas também: esposas, mães, filhas, irmãs. Amadas e amantes.
Meus heróis doam as próprias vidas pelo ideal de proteger e servir e não poucas vezes fazem-no por pessoas sem merecimento, sem gratidão e sem amor. Não recebem bustos de bronze e poucos têm seus nomes ostentados em ruas ou praças. 
Meus heróis não são perfeitos – e nem buscam a perfeição; contentam-se em cumprir com retidão seu mister sem se escravizar pelas contingências. 
Meus heróis são Policiais Militares. Meus anjos da guarda. Meus anjos de farda. 
(Dáuvanny Costa)

Um comentário:

Rosi disse...

Meu Deus que texto maravilhoso. Parabéns .