quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Se o mundo precisa de heróis...

Todo o mundo já escreveu sobre Vanderlei Cordeiro de Lima e sobre o ex-padre Cornelius Horan. Todo o mundo sabe que Vanderlei, após ter 40 segundos de vantagem sobre os demais participantes da maratona, foi agredido e empurrado para fora da competição.
Será, então, que tenho algo a acrescentar?
Um corredor brasileiro, com grande possibilidade de alcançar o ouro, foi surpreendido por um ex-padre maluco que acredita ser um enviado divino trazendo uma mensagem muito importante à Terra.
Talvez o sentimento de Cornelius tenha sido o mesmo que o meu: Não vejo mudança significativa alguma no país (ao menos neste) após a conquista das medalhas. Gostaria de ver.
Mas não estou desculpando o Cornelius. Por que o ex-padre maluco não foi atrapalhar o jogo de vôlei quando as meninas do Brasil jogavam contra a Rússia?! Por que não fez isso com atletas cubanos ou ingleses?!
Eu não desculpo o Cornelius, mas talvez possa entender seu ato. Enquanto milhares de seres humanos passam fome em todo o mundo, são gastos milhões de dólares em Olimpíadas, copas do mundo e corridas automobilísticas.
Todos os dias há vítimas. Vítimas da fome, do frio, da violência ou do analfabetismo e o mundo inteiro volta seus olhos para os deuses gregos.
Talvez, em vez de voltar os olhos para o Olimpo, devamos voltá-los ao Céu, ao Criador. E talvez tenha sido essa a intenção do Cornelius naquele dia. Talvez tenha tentado nos fazer lembrar disso. Fez errado. Mas fez!
E quanto ao Vanderlei? Herói?
Reputo-o herói; mas não devido à medalha brônzea que ganhou ou à medalha dourada que deixou de ganhar. Reconheço que a medalha é um feito honroso (tão honroso que a seleção brasileira de futebol não compareceu, posto que não é exatamente nesse ouro que eles têm interesse...), mas ela (a medalha) não faz de ninguém um herói.
Heróis são os Policiais Militares que arriscam suas vidas todos os dias por uma sociedade indigna deles; que deixam seus pais, seus filhos e cônjuges para cumprir bravamente seu dever, tombando, muitas vezes, mas sempre destemidos, enquanto recebem soldos miseráveis por esse ofício.
Heróis são os Bombeiros que desdenham do perigo, arriscando suas vidas no salvamento de desconhecidos, enquanto recebem os mesmos soldos miseráveis.
E aqui lembro três destes heróis, que conheço bem: Sargento Carlos Eduardo Costa Lopes, 1ª Cia 2º BPChq, Cabo Arnaldo Feliciano, 10º GB e Tenente Coronel Joel de Augusto, extinto DAMCo.
Heróis são os pais que conseguem criar decentemente seus filhos num país de terceiro mundo, sustentando-os com o pão da dignidade e fazendo disso um sacerdócio.
Heróis são os universitários que não têm quem lhes custeie os estudos e, ainda assim, alcançam os ideais.
Heróis são os trabalhadores que recebem R$ 350,00 mensais e conseguem sobreviver com dignidade, num país que todos os dias faz questão de esquecê-los.
Heróis são os contribuintes que nunca vêem seu dinheiro de volta em serviços; que têm de pagar pela educação, pela saúde, garantir sua própria segurança e mesmo assim, continuam pagando seus impostos, sempre altos.
Heróis são os nordestinos que deixam sua terra e não têm medo de tentar a vida num lugar desconhecido.
Heróis são os advogados que não se vendem e que buscam a justiça, mesmo que às vezes seja ela contrária ao direito; enquanto esboçam um sorriso canhestro ao ouvirem que nenhum advogado vai ao céu.
Heróis são os juízes que mantêm imparcialidade em seus julgamentos; que não agem com venalidade e não 'lavam as mãos' à semelhança de Pilatos; que buscam corrigir injustiças, não praticar outras.
Heróis são os médicos que trabalham durante horas, passam noites sem dormir e ainda conseguem salvar vidas.
Heróis são os procuradores de justiça que realmente procuram-na. Causa incansável.
Heróis são homens e mulheres que trabalham um dia inteiro e à noite ainda olham nos olhos um do outro e podem falar de amor.
Heróis são homens e mulheres que têm firmeza de propósitos, que não abrem mão de seus sonhos e que não desistem de lutar.
Heróis são aqueles que defendem sua fé mesmo em face dos piores ataques. Exteriores e interiores. São protestantes que protestam sempre.

Heróis são aqueles que quanto mais trabalham menos têm e ainda assim toleram o rigor insolente dos credores sem mandar-lhes para algum lugar desconfortável.

Heróis são homens e mulheres que perdem tudo na vida, mas nunca perdem seus princípios.
Heróis são aqueles que têm em mente que o trabalho enobrece o homem e para quem não basta apenas herdar o patrimônio de outrem.
Heróis são aqueles que suportam com dignidade e sensatez os ataques pungentes do despeito de quem não puderam e tampouco quiseram amar.
Heróis são aqueles que correm uma maratona inteira, e mesmo que alguém – um Cornelius – lhes obste o caminho, conseguem voltar, sempre, com dignidade, com força e com coragem.
Heróis nem sempre ganham medalhas. Nem sempre ganham louros. Mas são sempre vencedores.
E é isso que faz do Vanderlei um herói. A persistência. A coragem. A paixão.
(Dáuvanny Costa, Olimpíadas de 2004)

Um comentário:

Anônimo disse...

herois são pessoas qie fazem o melhor que podem mesmo que a vida nao tenha sido muito boa com elas. Conheço umas pessoas assim.
Nunca achei que sou herói por causa do meu trabalho vi sempre como uma obrigaçao e um prazer. Depois de ler seu artigo vi que sou e que estou tb cercado de pessoas que sao e que é bom prestar mais atenção nas pessoas que estao em volta de nós. Conheço uma mulher que considero cheia de heroismo e que merecia ganhar uma duzia de medalhas, mas ela nao ganha que ganhe entao os elogios sincero de um admirador e valeu pela grande consideraçao que tem por nossa milicia. Beijos moça.
Ten Gil Vianna