quarta-feira, 28 de novembro de 2007

DEFICI CONSILIO

Recentes absurdos jurídicos - e morais, ocorridos no Estado do Pará, têm sido assunto na Imprensa.

O absurdo 1: O fato é absurdo. Indiscutivelmente se trata de um acinte à Constituição da República, conquanto suas violações há muito não sejam originais.
As disparidades do sistema prisional no país demonstram seus rumos falenciais e, apesar da habitualidade, ainda me deixam sobressaltada. Isso, entretanto, não serve de escusa. O Estado errou. Severamente.
O absurdo 2: Humanistas e OAB/PA buscam meios de sanar o problema propondo 'prisão domiciliar' às senhoras que se deixarem apanhar em alguma infração.
Minha ignorância explode em questões:
1) Quem, efetivamente, é a vítima?
2) Onde são aplicados os esmagadores impostos que não fabricam prisões?
3) Um erro justifica outro?
4) Quem está sendo punido?

O Estado errou. O que não é novidade. Os envolvidos devem ser afastados e os prejudicados, indenizados. O fato é que os culpados são sempre os contribuintes; os mesmos lesados contribuintes que insistem em ser decentes. Somos força inútil.
Não sou insensível - ainda que a vida me tenha anestesiado a sensibilidade. Lamento profundamente pelo fato e pelo sofrimento da envolvida, mas lamento ainda mais pelos que choram sozinhos suas perdas e injúrias.
O desfecho:
"Porventura, meu Deus, estarei louco?"
(Augusto dos Anjos in Poema Negro e eu também)
(Dáuvanny Costa)

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

O Problema


"Na segunda-feira da semana que findou, acordei cedo, pouco depois das galinhas, e dei-me ao gosto de propor a mim mesmo um problema." (Machado de Assis, A semana, I)

domingo, 25 de novembro de 2007

Os amigos que risco

Um amigo, em referência à uma de minhas 'postagens', escreveu:
"Não consigo riscá-los [livros], nem rabiscá-los. Não consigo escrever neles. Muito mais do que meus amigos, são meus mestres, meus superiores.
Não consigo."Com a devida autorização publico seu comentário e minha resposta:

Também me era custoso - até o 2º Ano da 2ª Faculdade. Os motivos eram diversos (incluindo, na maioria das vezes, serem eles emprestados das Bibliotecas). Não conseguia. Eram meus superiores.
No entanto, volto e revolto aos livros e, nessas vezes, perdia longo tempo para achar a página ou a frase que me desassossegava ou me era necessária. Também descobri, nessas voltas e revoltas, que podia discutir com eles e a melhor forma de fazer isso era (sim!) neles. Capazes de me conter.
Não faço orelhas - isso é inadmissível! -, mas suas páginas estão repletas de papéis abarrotados de notas. Papéis, todavia, se perdem, são retirados ou mudados de lugar. Quando eu me canso de pensar daquela forma, impudentemente os retiro, mas meus marca-textos são implacáveis. Impedem-me de esquecer as opiniões de ontem. De quem eu era. Do que eu pensava. Comecei acanhadamente essa minha contravenção. Sublinhas frugais - e a lápis. Aqui e ali. Descompromissadamente. Descompromisso que se tornou sério. Patente. Urgente.
Eu estou lá. Em cada rabisco, em cada anotação, em cada sublinha. Sou eu e meus eus.
Não conseguia. Eram meus superiores. E os superiores se tornaram mestres. E os mestres, amigos. E os amigos conhecem nosso coração. Os melhores.
Simples assim.
(Dáuvanny Costa)

Versos Íntimos

"Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!"
(Augusto dos Anjos, in "Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século", organizado por Ítalo Moriconi para a Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2001).
Grifos meus.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Livros - Sonhos Despedaçados

Os livros se apertam nas estantes. Deito meus olhos sobre eles e confesso que com alguns eu apenas flerto. Manuseio-os fortuitamente. Esses aguardam meu contato.
De outros, sou íntima; não os faço esperar. Leio e releio. Sublinho e rabisco. Alguns me atraem, me confundem e fascinam.
Alguns são tão meus que às vezes nem posso crer que não foram concebidos por mim. Hoje escolhi um desses para fazer dele meu assunto. Sonhos Despedaçados, do Larry Crabb, é minha história. Sou eu pintada por outras cores, grafada por outras linhas... Sou eu e os fragmentos de meus sonhos - e de minha alma.
Quando os sonhos se frustram, poucas coisas nos dão prazer na vida e as únicas opções parecem ser negar e manter as aparências. Fugir e fingir. Alguém pode nos acusar de dissimulação. Que nos acusem - é um fato. Volto a ele em outro texto. Hoje escrevo sobre 'Sonhos Despedaçados'.
Crabb não tenta explicar; apenas sensivelmente nos guia por um caminho de esperança. Como lhe é peculiar, foge dos chavões e das respostas simplistas para demonstrar que há algo além do que nossos olhos alcançam - ou não alcançam. A dor é sempre uma experiência solitária. Amigos podem nos oferecer ombros, ouvidos, dinheiro, tempo, palavras, livros ou uma xícara de café. Podem ficar conosco, nos dar carona, segurar-nos as mãos e até se despojar de tudo para tentar alegrar-nos. Amigos, todavia, não conhecem as nossas dores mais profundas e aterradoras. Conhecem, apenas, o que permitimos. Sequer sonham com os horrores que nos habitam as almas. Horrores esses que nos fazem desesperados e desiludidos com Deus.
Crabb não recita mantras bíblicos para fazer com que nossa superfície se sinta melhor. Ele nos confronta com a realidade do Evangelho. Puro e simples.
Não é, certamente, leitura recomendada para quem não tem sonhos despedaçados; para quem não experimentou fracassos na caminhada; para quem não aspirou a morte, impudente ou furtivamente. Não é leitura recomendada para os que não caem porque nunca subiram o suficiente para cair.
É um livro para sedentos. Para quem anseia por ter um relacionamento com Deus que exceda a todos os demais, por comunhão com outros e por transformação de vida. O livro não proporciona isso, mas abre as portas para que o entendimento de nossas reais necessidades possa se revelar em nós e por meio de nós. Independentemente das circunstâncias que sujeitam as nossas vidas. "Até descobrirmos o quão perto chegamos de desistir de Deus (...), não saberemos muito bem o que significa nos entregarmos inteiramente a ele" (Larry Crabb). Tenho livros esperando para sentirem meus dedos, para me olharem enquanto desvendo seus segredos e para conquistarem minha devoção. Talvez esperem um pouco mais; minhas releituras do Crabb são mais urgentes. O livro nasceu em mim e agora se confunde comigo. Leio e recomendo.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Lágrimas Ocultas

"Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das Primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!"
(Florbela Espanca)

Por que me feres com tua ausência?

"Onde te escondeste, amado,
e me deixaste a gemer?
Como um cervo fugiste tendo me ferido;
saí à tua procura e havias partido".
(São João da Cruz)

Leio e recomendo

Desabilitei os comentários. Tive um motivo razoável para fazê-lo. Quero ler meus amigos. Não duas ou três linhas de seus pensamentos. Quero ler seus corações. Visito suas páginas; leio seus e-mails; ouço-os; escrevo para eles - sempre que posso. Aos que querem comentar (ou criticar) alguma postagem, recomendo o e-mail. Lerei. Aprenderei.
Quero lê-los. E leio. Leio suas alegrias e aflições. O que estão ouvindo e lendo. O que estão pensando. O que estão amando. Leio seus olhos. Recuso-me somente a ler duas palavras apressadas deixadas sob a caneca de café.
Quando os visito, algumas vezes comento, leio os comentários e não deixo de apreciar; mas gosto ainda mais de visitá-los furtivamente. Sem vestígios de minha presença. E sair guardando suas palavras em meu coração.
As referências ao lado são lugares que freqüentemente visito na Internet. Cataloguei o que mais me agrada. Leio e recomendo.
(Dáuvanny Costa)

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Desejo paz

"Feliz aquele que não insiste em ter razão, porque ninguém tem ou todos têm.
Feliz aquele que perdoa aos outros e aquele que perdoa a si mesmo.
Bem aventurados os mansos, porque não condescendem com a discórdia.
Que a luz de uma lâmpada se acenda, embora nenhum homem a veja. Deus a verá.
Não odeies teu inimigo, porque, se o fazes, és de algum modo seu escravo.
Teu ódio nunca será melhor que tua paz".
(Jorge Luis Borges in Fragmentos de um Evangelho Apócrifo)

Agora

sábado, 3 de novembro de 2007

Mãos Pequenas



Não conheço o Calebe. Nunca falamo-nos. Todavia, conheço sua mãe (Alessandra Motta), e sei, por meio dela, que ele é um menino adorável. O Calebe mal completou oito anos, mas tem algo diferente das crianças de sua idade: O Calebe é um servo. É entregue. É desses que correm para os braços de Jesus e Ele diz: “Deixai-o vir a Mim”.
Alê me mostrou fotos lindas do batismo do Calebe. Desceu às águas. Novidade de vida. Ele nem tinha 'velhidade' de vida, você dirá. Sim, você terá razão. Oito anos não é muito – para mim, ainda é um bebê (considero assim os meus sobrinhos). Você dirá que crianças não sabem de quase nada. Alguns dirão que crianças não sabem de nada. E que não podem crer - mas dessa vez você não terá razão. Quase posso ver Jesus no meio dos doutores; fecho os olhos e eis Paulo aos pés de Gamaliel.
Crianças sabem sim. Sabem muito. Sabem tanto que sabem a quem amar. Quase sempre. Deve ser por isso que Jesus nos aconselhou a sermos como elas. Ele disse que delas é Seu Reino.
Receio, admito (e a Alê também), por sua pouca idade, mas vou transcrever o que disse à ela: "Deus nos quer como crianças. Quer nossa dependência e nossa entrega. Ele geralmente nos resgata do mundo, cura nossos corações corrompidos e nos torna crianças outra vez. Há momentos, no entanto, em que Ele já as busca enquanto crianças. Há espaços onde apenas mãos pequenas podem alcançar. Há obras para as quais Ele precisa de mãos pequenas. Há orações que só podem brotar desses pequenos corações".
É assim que desejo segui-lO. Quero confiar. Quero depender. Não quero fugir na primeira dificuldade e tentar resolver as coisas do meu jeito – como quase sempre tenho feito. Não! Quero chamar meu PAI para resolver. Quero ser como uma criança. Não daquelas mimadas que só desejam coisas, mas daquelas que sabem que não precisam trabalhar porque seus pais, ou um deles, lhes providencia o sustento.
Oro pelo Calebe. E pela Gi, pelo Gui, pela Dudinha, pela Mi, pela Manu. E por mim... para não cometer, para sempre, os mesmos erros.
(Dáuvanny Costa)

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Ouvindo - Eu vou Seguir

"Eu sei que os sonhos são pra sempre
Eu sei aqui no coração
Eu vou ser mais do que eu sou
Para cumprir as promessas que eu fiz
Porque eu sei que é assim
Que os meus sonhos dependem de mim
Eu vou tentar
Sempre
E acreditar que sou capaz
De levantar uma vez mais
Eu vou seguir
Sempre
Saber que ao menos eu tentei
E vou tentar mais uma vez
Eu vou seguir
Não sei se os dias são pra sempre
Guardei você no coração
Eu vou correndo atrás
Aprendi que nunca é demais
Vale a pena insistir
Minha guerra é encontrar minha paz
Eu vou tentar
Sempre
E acreditar que sou capaz
De levantar uma vez mais
Eu vou seguir
Sempre
Saber que ao menos eu tentei
E vou tentar mais uma vez".

Marina Elali - Eu Vou Seguir (Versão de Marina Elali e Dudu Falcão)

Ressuscita-me

Não poderei me abster de comentários ao tópico anterior. Preciso fazê-lo. Não seria responsável se não o fizesse.
Todos os dias morro. Sou Lázaro. Termina o dia e termino eu. Desfaço-me em lágrimas. É o mesmo ritual. Algumas vezes, no entanto, há agravante. Agora é uma dessas vezes.
Todos os dias morro.
Ressuscito pela manhã. Obrigo-me.
Quantas vidas terei?...
(Dáuvanny Costa)

"O coração que aprende a morrer com Cristo logo conhece a bendita experiência de ressuscitar com Ele, e todas as perseguições do mundo não podem silenciar a nota aguda de alegria santa que brota na alma que se fez habitação do Espírito Santo." (A.W.Tozer)